Por que a Petrobras é tão querida?

Para conhecer a energia e a solidez do subsolo pátrio, nada melhor do que consultar os geólogos. Assim, muito oportuno o debate trazido pelo Sigesp sobre as razões que tornam nossa maior empresa tão querida dos brasileiros e, ao mesmo tempo mas interesses opostos aos nossos, pelos fundos de investimentos internacionais, ávidos por dinheiro fácil.

Guilherme Estrella* conta a história da Petróleo Brasileiro S.A., sob ótica do interesse nacional: a energia é insumo básico para o desenvolvimento industrial de um país; assim, o Brasil agrário e importador da primeira metade do século passado dela precisava em abundância se desejasse recuperar a passos largos o atraso econômico. Em face do clamor popular, o Brasil funda a sua própria petroleira em 1953, para explorar o “ouro negro” que hoje representa mais da metade da matriz energética nacional.

Em 2006 o país alcança a autossuficiência. Fruto da competência dos cientistas e técnicos que por longo período atingiram a liderança global em águas profundas e foram os primeiros a chegar ao pressal – dois mil metros de água, rocha, sal e novamente rocha até chegar ao reservatório de óleo fino e gás.

Asseguravam ideólogos liberais que a quebra do monopólio estatal era primaz para assumir os “riscos” da exploração. Enquanto a Petrobras colocava em produção campo após campo, a conhecida Shell desistiu do primeiro poço na metade do caminho, a 4000 metros de profundidade.

Um campo como Carcará tem capacidade para entregar 700 mil barris por dia, vinte vezes a mínimo para tornar a exploração economicamente viável. Um potencial de 6 a 12 bilhões de barris no seu reservatório de 900 metros de altura. Quem conta é Luciano Seixas Chagas*.

É um campo maduro, ou seja, localizado, dimensionado e com plataformas em funcionamento.

Quanto seria o preço justo de sua concessão a terceiros, já que o petróleo, por soberania, é nosso e a Petrobrás tem experiência e crédito para extrai-lo? Cinco dólares por barril? Um dólar? Pois bem, Carcará foi “vendido” por módicos USD 2,5 bilhões, uns 40 centavos por barril da quantidade mínima de óleo que lá foi descoberto pelos brasileiros. Maromba, um campo bem menor, também não alcançou sequer o dólar por barril.

Luciano concorda com o líder dos petroleiros do litoral paulista, Adaeson Bezerra da Costa*, sobre a avaliação dos gestores da empresa hoje. Dotados de salários elevados, cortam 80% das verbas de pesquisa, fatiam as empresas e entregam, a preço vil, o óleo brasileiro a quem melhor lhes impressionem.

Até da única refinaria sulamericana de gasolina de aviação a Petrobras abriu mão. Quando os funcionários ousam apresentar seus argumentos em defesa da empresa e do Brasil, a direção ameaça com processos administrativos, baseado em um Código de Ética que parece, ela própria, desconhecer.

Os prejuízos ao Brasil não se limitam às perdas da própria Petrobras, que já são imensas: perdem também a engenharia nacional, cujas empresas apoiam a petroleira estatal, e as regiões de exploração cuja presença da petroleira está sendo desmobilizada. Na Baixada Santista, os petroleiros preparam estudo sobre os impactos nas cidades da anunciada saída da empresa.

Adaedson lembra que a unidade dos funcionários da empresa, com amplo apoio popular, já foi capaz de resistir ao desmonte no passado, perguntando: que país queremos para nós e as gerações futuras?

*Guilherme Estrella é geólogo e foi Diretor de Exploração e Produção da Petrobras de 2003 a 2010; Luciano Seixas Chagas é geólogo, com 46 anos de experiência na Petrobras; Adaedson Bezerra da Costa é coordenador-geral do Sindipetro Litoral Paulista e Secretário-geral da Frente Nacional dos Petroleiros.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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