
Getúlio Vargas, em cadeia radiofônica nacional
31 de janeiro de 1954
Capítulo 17 do Pensamento Nacional-desenvolvimentista
Ao iniciar o quarto ano de seu governo – que viria a ser o último de sua vida, Getúlio dirigiu-se aos ouvintes para explicar que seu programa de defesa dos valores do trabalho brasileiro estava em curso e não fora anunciado “previamente porque os debates teriam impedido a sua realização”, Segundo ele, então ninguém mais poderia deter a marcha do Brasil. No entanto, como se conhece da história, muitos ainda tentariam e, em grau maior ou menor, sucederiam nesse sentido.
As medidas tomadas para frear o “excepcional campo de especulação”, especialmente na esfera cambial, teve reação, mas alcançaram um patamar justo no interesse nacional. Desvios cambiais de 250 milhões de dólares e registro indevido de capital estrangeiro de mais de 130 milhões de dólares foram identificados, reduzindo os compromissos de capital com o exterior, sem prejuízo dos direitos de quem de fato investiu no Brasil.
Prosseguia Vargas:
Há, em nossa vida, dois marcos decisivos. O da utilização do nosso ferro e o da formação das nossas fontes de energia. Iniciei a marcha, superando todos os obstáculos para a criação da nossa siderurgia. Agora vamos para a etapa das fontes de energia.
Não só os combustíveis fósseis do petróleo, mas a geração de energia elétrica no ritmo necessário ao aumento anual de 14% na demanda foi objeto da ação pública, por meio de garantias aos empréstimos das concessionárias que precisavam expandir sua produção.
Cresceu a capacidade de importação do Brasil, ao mesmo tempo que a renda nacional mais que dobrou em cinco anos. Com o trabalho na indústria e no campo, com as obras públicas de infraestrutura rodoferroviária e portuária. Com mais siderurgia do ferro mineiro, mais fabricação de motores, celulose e petroquímica.
Como lembrou Vargas nas ondas do rádio, “não se trata de programa apenas, e, sim, de iniciativas em curso. Tudo isso obedeceu a um plano de seletividade das iniciativas, coordenadas na base de sua essencialidade e da economia de divisas que tais realizações produziriam para a Nação”.
Menos de 7 meses antes do seu martírio, o presidente lembrou:
Não é mais possível manter uma sociedade dividida entre o pequeno grupo do capital, que tudo tem, e a massa imensa do trabalho, a que tudo falta.
Suas palavras finais nesse dia foram por uma sociedade que não negasse o valor da iniciativa individual, mas que fosse despojada de privilégios e monopólios, geradores de injustiças e desigualdades.
O ideal de emancipação nacional foi assim expresso por Getúlio:
Não é mais possível admitir a penúria no meio da opulência, a escassez no meio da abundância, a condição de uns que não tem o indispensável para viver e a ostentação de outros que têm o supérfluo para malbaratar.
Palavras que dizem muito do Brasil hoje, quase sete décadas depois de 1954.
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