O engenheiro, economista e titular de geociências da Unicamp, Prof. Renato Dagnino, ilustrou a última noite da agosto com suas lições sobre como o Brasil deve se reindustrializar.
No seu entender, há duas rotas paralelas possíveis de seguir, de modo complementar: a neoindustrialização, ou industrialização empreserial e a reindustrialização solidária.
A vertente empresarial é fortemente baseada nas ideias de Schumpeter, de avanços na produtividade em ondas, cujas revoluções ocorreram com base no domínio de novas fontes de energia, o aproveitamento dos conhecimentos científicos e uma acomodação do mercado ao modelo mais moderno, culminada, mais recentemente, com a chamada Indústria 4.0, com forte componente de inteligência artificial. Uma nova onda já mostra seus sinais com preocupações ambientais, sociais e de governança.
As travas da economia já apontadas por Ladislau Dowbor desrecomendam a aposta prioritária nessa vertente. Mais a mais, a indústria empresarial tem contratado um número muito pequeno de mestres e doutores formados na academia, para lhe improver avanços por meio da pesquisa tecnocientífica: entre 2006 e 2008, foram 68 especialistas, em um universo de 90 mil egressos da pós-graduação universitária.
A predileção de Dagnino recai, no entanto, pela industrialização solidária, aplicando-se à transformação de matérias primas em utilidades os princípios cooperativos que refem movimentos como o MST, por exemplo. Não obstante os variados casos em que os trabalhadores mantiveram coletivamente em funcionamento fábricas cujas empresas quebraram, o professor acredita que é possível partir do zero com sistemas cooperativos.
No Brasil, cerca de 80 milhões de adultos não têm vínculo empregatício formal que, de alguma maneira, integram o presente e o potencial da economia solidária. E o estado tem condição de dirigir as suas compras para a produção desse setor.
O palestrante é adverso à iniciativa estatal na produção industrial, em razão de supostas falhas em países que construíam e constroem o socialismo. Se os resultados da China e o do Vietnã estão à mostra, a URSS crescia a 30% anuais – na guerra a 3% – e teve o seu declínio associado ao aumento da cooperativização da indústria, a partir de Kruschev.
Mesmo o Brasil avançou ao posto de uma das maiores economias do planeta lastreado na indústria estatal – Companhia Siderúrgica Nacional, Petrobrás e Eletrobrás -, cujo prodígio mais recente talvez seja a extração de óleo fino do pré-sal, responsável pela autossuficiência energética do país. Também são inequívocos, como reconheceu Dagnino, os investimentos em pesquisa tecnocientífica dessas empresas e suas encomendas em território nacional.
A industrialização solidária soma-se ao leque de caminhos para o Brasil voltar a crescer, completar a sua independência e proporcionar uma vida mais confortável para o seu povo.
“O futuro do Brasil está ancorado no mercado interno, capacidade de produzir e consumir conservando o nosso ambiente; autonomia de decisão do que e como produzir”, concluiu o professor.


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