“O problema não é de onde vem, mas para onde vai o dinheiro”
Ladislau Dowbor, filho de engenheiro mecânico, é linguista, economista, professor doutor universitário e autor de mais de 40 livros.
Dowbor iniciou sua explanação com a leitura de trecho de carta de sobrevivente de campo nazista de extermínio na Polônia, em que o autor relatava, entre outros, que “as câmaras de gás foram construídas por engenheiros formados” e clamava aos professores que não criassem monstros assim. Ladislau saúda a técnica, lembrando que precisa vir acompanhada de humanismo, para ser social e ambientalmente bem usada. Lembrou de seu próprio pai, após uma carreira na Belgo Mineira, dedicou-se como prático em medicina aos cuidados de milhares de maranhenses, na então longínqua Imperatriz.
Em paródia com a iniciativa papal na economia, um dos debatedores sugeriu se tratar de “Engenharia de Francisco” a proposta de combinação da elevada técnica com a responsabilidade social e ambiental pelo seu uso.
O economista explicou que a 60% da renda de cada um é percebido de forma individual, o restante vem dos gastos coletivos com segurança, saúde, educação e outros serviços públicos.
Ademais, diferentemente de países da Àfrica, por exemplo, ao Brasil não faltam condições econômicas para assegurar o bem-estar de seu povo: a média mensal de produto interno bruto nacional é de R$ 11 mil por família de quatro pessoas (R$ 20 mil no mundo). Não há razão, portanto, para cidadãos passarem fome, crianças ficarem fora da escola e brasileiros viverem em choças. Recurso tem, tanto que os grandes bancos locais distribuíram R$ 40 bilhões de lucro em apenas um trimestre a seus acionistas. O problema é o que se faz com o dinheiro.
Sobre a fome, mal que aflige um bilhão de humanos ao redor do globo, acrescentou que o Brasil produz 3 quilogramas/dia de alimentos por habitante. No entanto, os nutrientes não chegam a todos em razão de o país ocupar posição subalterna em um “sistema neocolonial exportador de primários”.

O professor chamou a atenção para o processo colaborativo de construção do conhecimento. E deu o exemplo: em seu portal, os livros podem ser adquiridos na versão impressa ou baixados gratuitamente na versão digital. Entre os títulos citados, estão A era do capital improdutivo, que a Fundação Paulo Freire transformou em vídeo-curso de quinze aulas; Tecnologias do Conhecimento: os desafios da educação; e O pão nosso de cada dia, este o mais recente e com opções econômicas para sair da crise que se arrasta há décadas no planeta, agravada pela pandemia.

Compartilhar conhecimento, oferecer conteúdo a mais leitores, não traz custo marginal para o autor. Ladislau convidou a todos para montar suas próprias estantes virtuais e facilitar o acesso das pessoas à elas.
“Sejamos todos multiplicadores do conhecimento e da cultura!“
É um chamado que, modestamente, procuramos atender em O Brasil e o Mundo por Iso Sendacz.
5 comentários em “Engenharia pela Democracia conversa com Ladislau Dowbor”