
Nilson Araújo de Souza
O modelo agrário-exportador não conferia ao Brasil politicamente independente status de nação desenvolvida. Ao contrário, terminava por financiar, às expensas do trabalho nacional, o desenvolvimento dos países que se industrializavam.
O capítulo 29 do Pensamento Nacional-desenvolvimentista é dedicado ao esforço brasileiro para superar a dependência das importações de manufaturados e bens de capital, que se mostrou especialmente prejudicial quando do esgotamento do ciclo do café.
Com a queda dos preços internacionais do produto, as reservas brasileiras desabaram por dois motivos principais: as importações passaram a cobrar o seu déficit comercial; e o governo seguia comprando a lavoura para queimar estoques. Em um cenário de escasseamento dos créditos internacionais, deu-se o chamado “estrangulamento externo”.
A crise econômica e o assassinato de João Pessoa, candidato a vice-presidente da República, em 1929 abriu passo à uma mudança revolucionária da orientação política e econômica do Brasil. A defesa do operariado urbano e rural, de modo a fortalecer o mercado interno; a proteção à produção nacional; o voto universal; e o ensino público, principalmente técnico-profissional constituíam o eixo das mudanças de rumo.
A crise cambial foi enfrentada com a suspenção de pagamentos e renegociação da dívida externa; controle de câmbio e desvalorização da moeda; e elevação das tarifas de importação. Estas marcaram, em 1932, a quarta parte do que eram em 1929, transformando o déficit em superavit.
A nova política de aumento da demanda agregada e do emprego implicou na migração das rendas do café para a atividade industrial, sem descuidar da produção rural. Como consequência, antes mesmo de os centros capitalistas, os mais afetados pela crise de 29, terem iniciado a sua recuperação, já em 1931 a produção industrial brasileira superava o patamar de dois anos antes, mais que dobrando em uma década.

Cumprida uma etapa de substituição de importações por fabricação nacional, o passo seguinte consistiu na “fundação, de maneira definitiva, ‘das nossas indústrias de base'”. A industrialização, os transportes e comunicação e a defesa nacional exigiam a instalação da grande siderurgia e plataformas energéticas, em que o Estado cumpriu papel relevante para a sua construção no Brasil.
Também a dinamização do mercado interno, com a melhoria do poder de compra dos trabalhadores, possibilitada pela legislação trabalhista, impactou positivamente a industrialização brasileira.
Entre 1939 e 1954 a produção industrial dobrou de tamanho, enquanto o consumo popular avançou 130%, sem prejuízo da taxa de investimentos, que foi de 12,9% a 14,3% no período.
Obstáculos houveram ao progresso do país, desde os enfrentamentos contrarrevolucionários de 1932 e 35 até a tentativa de impedir Getúlio de comandar o processo eleitoral de sua sucessão, em 1954.
Em seu último governo, o Brasil viu crescer a indústria pesada e a tomada de medidas de interesse nacional, como a restrição à remessa de lucros que feriam especialmente interesses dos EUA, tecnologicamente mais lentos que Japão e Alemanha e cadentes em seu poderio pós-guerra.
Quando lhe foi exigia a renúncia, Getúlio deu um tiro no peito e, com a comoção popular causada pelo gesto extremo, assegurou a posse de JK e o seguimento da industrialização do Brasil, já então com crescente controle externo.

Nilson Araújo de Souza é pós-Doutor em Economia, dirigente do PCdoB e um dos organizadores do Pensamento Nacional-desenvolvimentista. O material foi publicado originalmente como primeiro capítulo do livro do autor intitulado Economia brasileira contemporânea: de Getúlio a Lula, de 2007.
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