A reconstrução nacional

Seminário de Estudos avançados – Mesa 5

A conclusão do seminário sobre a realidade brasileira contou com a participação dos economista Márcio Pocchman, Elias Jabbour, Simone Silva de Deos e Nilson Araujo de Souza e a coordenação da cientista Mariana Moura. Ela perguntou como melhorar as condições de vida da nossa gente, assegurando ao mesmo tempo um ambiente democrático.

O presidente do Instituto Lula e ex do IPEA entendeu impreciso o termo “reconstrução” para as tarefas de hoje, pois não se trata de voltar ao estado de coisas de outrora, que terminou por propício à emersão do fascismo no Brasil.

Pochman segmentou a história do capitalismo no Brasil em três períodos: 1890-1930 – consolidação do capitalismo, detentor de 1% do PIB global e com crescimento menor que 1% ao ano; 1930-80 – a era Vargas, industrializante, em que o PIB cresceu 8 vezes e a produção individual avançava mais e 4% ao ano; e 1980 até hoje – a pior fase, em que a participação global do país caiu pela metade.

O professor explicou que a indústria cedeu passo à importação de manufaturados, de resto pagos com produtos primários; a riqueza migrou das regiões litorâneas para o interior; a maioria do trabalhadores luta pela subsistência; e a antiga burguesia industrial foi substituída pela burguesia rentista, que se apropria dos recursos do Tesouro nacional. Preocupa-o também o esgotamento do projeto de modernidade ocidental, o novo regime climático e a ocupação do espaço aéreo brasileiro, além da redução do crescimento populacional: neste século a população jovem reduzir-se-á de 48 para 26 milhões de brasileiros.

O sinólogo fluminense lembrou que, mesmo com uma história contraditória, o Brasil viveu desde o século 19 muitos ciclos decenais de substituição de importações. Nos últimos 40 anos, no entanto, o que predominou foi a heterodoxia e o combate à inflação dá a tônica até hoje.

De seus estudos sobre o gigante asiático veio a orientação de o Brasil buscar renda nova. Se a burguesia brasileira não se mexe a contento, Jabbour lembrou que o Estado pode criar os seus conglomerados e proteger a indústria, inclusive o setor privado. A intelectualidade orgânica de hoje pode cumprir o papel de planejar o futuro do país periférico e acordos com a China podem ser de grande valia na integração territorial e investimentos em infraestrutura, avaliados pelo professor em R$ 380 bilhões..

Simone versou sobre a macoreconomia política, a partir da observada “decadência econômico-social das últimas décadas, aceleradas nos últimos anos”. Desenhar e executar novas políticas, com ousadia e inteligência, a sua receita.

Diante da pressão dos custos sobre a inflação, ao contrário do resto do mundo, que usa taxas próximas a zero e inclusive negativas, o BC brasileiro mantém a Selic elevada, lembrou a professora. A ação do banco central, somada a evasividade do discurso do Ministro da Economia, que não convoca o Conselho Monetário Nacional para discutir uma política monetária soberana, limitam a ação do Estado e mesmo disputam a sua direção em favor do rentismo e detrimento dos interesses nacionais e sociais.

Diretor da Fundação Maurício Grabois, o pós-doutor Nilson Araujo discorreu sobre as tarefas mais urgentes da revolução brasileira, constantes da plataforma emergencial de reconstrução nacional, documento partidário do qual foi o relator.

Confira também a abertura do seminário e as Mesa 1 – Os desafios do novo governo Lula; 2 – A guerra cultural; 3 – A cultura brasileira na luta de ideias; e 4 – A identidade comunista.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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