Neuronavírus

Para explicar o que seja o “neuronavírus” o professor Luiz Gonzaga Beluzzo, da Unicamp, retroagiu ao início do século passado para ilustrar, a partir de práticas então correntes nos EUA, a importância das relações de trabalho com o desenvolvimento econômico.

O economista foi o expositor e debatedor principal do seminário desta semana da Escola do Dieese – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, intitulado “Mercado de trabalho, desigualdade e o desenvolvimento brasileiro“.

O professor apelidou de “neuronavírus” o que popularmente chamamos de a incapacidade de pensar fora da caixinha, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é a mesma coisa”.

De Henry Ford trouxe a sábia máxima de que é necessário pagar salários altos o bastante para que os trabalhadores lhes possa comprar os produtos. Como também indicou seu colega Nilson Araújo de Souza perante outro sindicato, é preciso por dinheiro na mão das pessoas, para que possa haver retomada da produção após a coronacrise, puxada pelas encomendas dos consumidores.

Ainda no entreguerras do século passado, o 32º presidente dos EUA contrapôs à quebra da bolsa de 1929 o incentivo à sindicalização para que os trabalhadores defendessem os salários e outros direitos e assim dinamizassem a economia e a produção industrial, guarnecidos ainda de proteção previdenciária.

Cartoon IWW

O crescimento do PIB estadunidense mostra que Roosevelt tinha razão em sua politica. E o desemprego resultante do estouro da bolha caiu de 24% a 9% da massa dos trabalhadores do país.

No entanto, como explicou Belluzzo, surgiu uma nova forma de pensar as relações humanas que determina o crescimento econômico como consequência da flexibilização das relações de trabalho, pois os menores custos permitiriam um retorno adequado ao capital, tornando mais atrativo o investimento produtivo.

Funcionaria perfeitamente se todos os outros empregadores não reduzissem sua folha de pagamentos. Fácil observar que não é o que acontece, mais ainda quando o fornecedor de serviços é um aplicativo como o Uber ou o Ifood.

Por isso o momento presente é tão dramático. O longo desmonte da defesa dos direitos de quem trabalha só fez agravar sua situação em tempos de pandemia. Para ficar no exemplo citado pelo professor: 33 milhões de cidadãos dos EUA acorreram ao seguro-desemprego nestes dias de morte e de dor.

Luiz G Belluzo

Uma indagação não ficou no ar. O dinheiro pago aos trabalhadores não voltaria, de toda a forma, aos ricos proprietários dos negócios? Sim, mas no meio do caminho as pessoas melhorariam de vida, ganhariam mais conhecimento, mais saúde e mais conforto. Em uma palavra, melhores condições de reproduzir sua força de trabalho.

Belluzo concluiu com duas observações: o BCB pode financiar a ampliação da ajuda aos trabalhadores durante a pandemia; e é preciso conter a saída de capital do país.

A ele, nossos parabéns e gratidão pelas lições.

Reproduzido na Hora do Povo.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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