
É preciso salvar vidas para salvar a economia ou é preciso salvar a economia para salvar vidas?
Embora a interdependência entre a vida humana e a economia seja evidente, a questão trazida por muitos brasileiros pode embutir dúvida quanto à primazia da vida em relação à produção e distribuição coletivas e à apropriação de excedentes pelos indivíduos
Na defesa da primazia da vida, o prefeito da maior cidade do país, que não por acaso é o epicentro da crise sanitária, temeu por uma Milão brasileira se o afrouxamento do isolamento social proposto pelo governo federal – sempre em contradição com as orientações do Ministro da Saúde, Dr. Mandetta – fosse levado adiante no Brasil.
Já tínhamos comentado nestes dias sobre as avaliações do insuspeito Banco Itau sobre o desenvolvimento econômico e as carreatas da morte. Falamos também do destino provável da injeção trilionária de liquidez no Sistema Financeiro Nacional. Até dicas para ficar bem em casa e a urgência do auxílio estatal aos que têm fome já ocuparam estas telas.

Resta saber porque há gente, a começar pelo círculo íntimo do Presidente da República, que acha que “umas trinta mil mortes” não justificariam a paralisia de parte da economia.
Miseráveis em geral não têm conta no banco nem cartão de crédito? A pessoa com deficiência não “pega no pesado”? Idosos em geral são aposentados e representam “despesas” para os cofres públicos? Como se uma vida pudesse valer mais que qualquer outra e como se cada um não pudesse contribuir com a construção coletiva.
O valor da vida é incalculável. Só quem é vivo produz, distribui e acumula riqueza e conhecimento. A economia só funciona como relação profunda entre os seres humanos – talvez entre outras espécies em algum ponto do espaço sideral, que ainda não tivemos o prazer de conhecer.
Mas, acima de tudo, só o ser humano ama o próximo como a si mesmo. Só o ser humano é capaz de se indignar contra qualquer injustiça contra qualquer ser humano em qualquer lugar do planeta.

Quem já assistiu o seriado estadunidense Lei e Ordem sabe: quem salva uma vida, salva a Humanidade. É hora de ficar em casa. É hora de o ser humano ser humano. Vamos juntos sair desta melhor do que entramos.
Revelando o segredo: “Falidos se recuperam, falecidos não”.