
O Banco Central do Brasil anunciou há poucos dias uma injeção de liquidez de R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro. A quem acompanha à distância o trabalho da autarquia, uma breve explicação: a política monetária adotada para conter a inflação à meta projetada é executada colocando e retirando dinheiro de circulação, sempre por meio de Instituições Financeiras autorizadas a funcionar no país.
Alguns especialistas correm a dizer que a liberação de depósitos compulsórios não é doação de dinheiro público aos bancos. Como o próprio nome do instrumento diz, “depósito compulsório”, é dinheiro que foi depositado de forma obrigatória pelo seu portador, de modo a permitir o exercício, pelas autoridades, da política monetária.
Mas não é preciso dizer que o dinheiro não é dos depositantes: não há obrigação de depósito sobre o patrimônio bancário e de outras firmas reguladas pelo Banco Central, mas sobre certa espécie de dinheiro pertencente aos clientes desses intermediadores financeiros.
Só para dar uma ideia, o capital próprio do conjunto do Sistema Financeiro Nacional beira os R$ 850 bilhões sendo, portanto, equivalente a dois terços da liberação de recursos emergencial.
Não se intendia nem se verificou nos dias seguintes suprir o caixa ante uma corrida aos bancos pelos depositantes, até porque as agências estavam fechadas ao público e os terminais eletrônicos têm limitação de saques por operação diária.
O que os bancos farão com o dinheiro em mãos? São duas as opções principais: correr riscos financiando empresas; ou aplicar em títulos públicos, considerados sem risco pelo governo.
A expectativa, evidentemente, é o fortalecimento da primeira opção neste momento de crise pandêmica: emprestar a juros quase-zero para que empresas e pessoas cliente possam passar o período de isolamento social e depois, com saúde, voltar à atividade econômica do ponto onde paramos.

O Brasil sempre foi mais conservador que os acordos internacionais, firmados em Basileia, Suíça, para avaliação da solidez das instituições financeiras. Algumas das maiores, inclusive, são ainda mais prudentes do que espera delas o BCB.
Mesmo assim, sem uma orientação mandatória do que fazer com o dinheiro, dificilmente os bancos perseguirão menos lucros quando, com riscos até menores, podem seguir ganhando na crise para si e seus mais abonados clientes.
Para não dizer que o governo não está fazendo algo na seara financeira, o banco público – a Caixa Econômica Federal – abriu linha de crédito para comprar carteiras insolventes de, por exemplo, financiamento de carros usados. Sustenta-se o ganho privado e socializa-se o prejuízo, pois a Caixa é 100% estatal.
Mas daí a determinar, como é feito com os recolhimentos compulsórios remunerados, a destinação dos recursos ora liberados para o atendimento aos interesses da coletividade reclusa, como manda a Constituição brasileira no artigo 192, vai uma grande distância. Ainda.
Leitura suplementar: Os mais espertos da sala.
Após a publicação, alteramos nossa impressão quanto aos riscos em O Banco Central e o coronavírus, artigo em duas partes.
10 comentários em “Injeção de liquidez sem riscos”