Sobre continências e incontinências

Uma das raras manifestações oficiais sobre 31.3.1964 veio, agora que o Comandante Supremo (das Forças Armadas) está com crescentes dificuldades no uso das redes sociais, do seu subalterno General Mourão, escolhido pelo povo brasileiro como seu auxiliar, substituto e sucessor.

Todo mundo conhece a história de Mort Walker, militar estadunidense cuja baixa considerou uma condecoração, de modo que saberá identificar os personagens dos quadrinhos com alguns próceres da República.

O que fez o Vice-Presidente?

Trouxe foto de Castelo Branco, um Marechal de então, explicando que defenderia e cumpriria “com honra e lealdade a Constituição do Brasil”. Um dever de sua condição de militar graduado anterior mesmo aos atos que praticou naquele dia.

O Presidente João Goulart encontrava-se no legítimo exercício do mandato que lhe fora conferido pelos eleitores, estando no Brasil não só em 31 de Março como também nos dois dias seguintes.

Diante de desordeiros fortemente armados, optou por sair do país e evitar um desnecessário banho de sangue.

O marechal que sentou na cadeira presidencial após empossado por uma sessão legislativa posteriormente cancelada pela Justiça brasileira disse mais: seria “escravo das leis” que promulgava sem o devido processo legislativo nelas previsto e “vigilante para que todos as observem com exação e zelo”.

Especialmente depois que seu avião espatifou-se ao chão, todos sabem muito das infrações que ocorreram nos porões dos governos de então. Mas mesmo antes, a enxurrada de capital estrangeiro então propagandeada – um bilhão de dólares, dinheiro razoável na época – já havia sido devolvida ao patrão, restando-lhe ainda a propriedade sobre o que era nosso por lei.

Quando o Tenente Escovinha, graduado na reforma Capitão Durindana – oops – o Presidente Jair Bolsonaro foi ontem à TV não demitir o Doutor Mandetta, mas verter lágrimas sobre a gravidade da crise da gripezinha, mais uma vez o que prevaleceu não foram aplausos, mas o grito das janelas.

Se há 56 anos os desordeiros de ontem conseguiram poder por algum tempo, as lições da história nos animam não só a vencer a pandemia em casa como colocar o país em ordem muito em breve, na forma da Lei,

Fiquem bem e em casa.

Reproduzido em The Dark Side of the Moon.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

2 comentários em “Sobre continências e incontinências

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