
Quando após muitos anos as urnas se abriram em Santos em 1945, o candidato a presidente lançado pelo Partido Comunista Iedo Fiuzza contava na cidade com 45% dos votos. A combinação da liberdade de organização partidária, a liderança de um sem-número de entidades populares e o prestígio da URSS, que recém hasteara sua bandeira sobre o Reichtag alemão, pondo fim ao conflito mundial com a vitória aliada, conferiam popularidade à legenda comunista, que reuniu mais de meio milhão de votos no país.
Em Santos, durante o biênio em que o partido teve existência legal, sob o comitê municipal funcionavam 4 comitês distritais, 8 comitês democrático-populares e 57 células. A cidade não tinha autonomia para escolher seu próprio prefeito, mas 14 dos 31 vereadores eleitos eram ligados à legenda, exercendo todo ou parte do mandato por outros partidos.
Entre 1945 e 1947 nada menos que 19 comícios, principalmente nos morros e nos bairros operários, tiveram praça na “cidade vermelha”. E um “avanço” sobre a vizinha São Vicente também foi detectado pelo historiador Rodrigo Rodrigues Tavares.
Santos já não era a mesma de 1930, os cenários de então haviam mudado e os personagens do cotidiano operário também. A luta sob as sombras, no entanto, conferiu prestígio aos comunistas locais, que receberam assistência nacional dirigentes como David Capistrano, pai do médico prefeito da cidade anos mais tarde e Carlos Marighela.
Novamente clandestino, o Partido proletário reorganizou-se nos sindicatos, abandonando a política de “apertar os cintos” já em 1948, e nas associações populares de moradores e trabalhadores que, pouco a pouco, foram sendo fechados pela Polícia Marítima, cujo corpo miliciano era conhecido como “brutamontes de Ademar [de Barros, governador de São Paulo]”.

Tavares conclui a obra explicando que a história não termina e novas cenas cotidianas viriam a povoar Santos após a morte de Getúlio. Se muitos comunistas achavam o líder trabalhista vinculado ao capital estrangeiro, a comoção popular que se seguir ao sacrifício da própria vida.
Um de seus mais acerbos críticos até então, o comunista Bernardo de Abreu Madeira, leu a carta-testamento e conduziu o minuto de silêncio em homenagem póstuma a Vargas que, além da CLT, havia legado a siderurgia e a Petrobras ao povo brasileiro, cujos reflexos vieram a compor o novo cenário operário da Baixada Santista, com a Cosipa e a Refinaria Presidente Bernardes.
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