Há quanto tempo estamos por aqui?

O bioantropólogo Walter Neves é mundialmente conhecido por ter nos apresentado a mais antiga das brasileiras, a que deu o nome de Luzia. Em aula dos cientistas engajados*, ilustrou sobre a antiguidade da humanidade, à luz das mais recentes descobertas arqueológicas.

Neves explicou que descendemos de uma linhagem animal de até 7 milhões de anos, segundo o que se sabe até agora. Sucessivas teorias de quando nos tornamos o que somos foram sendo descartadas com novas evidências, por não serem exclusivas do homo sapiens: os primeiros bípedes tinham menos cérebro que um chimpanzé; estes também fabricavam e usavam ferramentas, enquanto os neandertais tinham quase 20% a mais de volume cerebral; outros animais também viviam em sociedades complexas, em grandes bandos e com hierarquia de funções.

Então o que nos separa, biológica e socialmente, das demais espécies animais?

O cientista esclarece que é o comportamento simbólico, a capacidade de criar e manipular símbolos e atribuir significado às coisa, eventos e à própria vida. São duas as fontes de materialidade arqueológica, usadas para identificar a humanidade das pessoas: a arte ou manifestação estética; e o enterramento ritual dos mortos.

Walter Neves na República da Geórgia (imagens de Clóvis Monteiro)

É corrente a tese de que teria havido uma revolução criativa no paleolítico superior, há 45 mil anos, quando a espécie surgida na África 150 mil anos antes chegou à Europa, via Oriente Médio. Nesse período, calcula-se um salto na indústria lítica de vinte para cem ferramentas, inclusive com o uso de ossos e dentes na confecção de artefatos; e tiveram início os sepultamentos ritualizados.

No entanto, vê-se aí uma distância temporal entre o surgimento da anatomia e o comportamento modernos.

As novas escavações no sul da África mostram que houveram antecedentes à explosão criativa citada: pinturas já decoravam cavernas há 70 mil anos e artefatos com conchas perfuradas e desenhadas alcançaram 130 mil anos na datação, triplicando a idade do nosso avô mais velho.

Pesquisas na Espanha também mostram evidências artísticas anteriores à chegada dos africanos à Europa, trazendo indagações novas aos cientistas. Teriam sido os neandertais também dotados de humano comportamento simbólico ou os sapiens já teriam estado na Europa há mais tempo do que se imagina?

Cientistas Engajados Mariana Moura e Walter Neves, ela candidata a vereadora em São Paulo (65300)

*Cientistas Engajados são inspirados pela organização de detentores de Prêmios Nobel Concern Scientists. O grupo se propõe a levar a ciência à gestão pública e oferecer préstimos à produção legislativa.

Além da leitura do livro A origem do pensamento simbólico e do artigo do próprio Neves sobre a antiguidade da Humanidade na Terra, sugerimos visitar nossos comentários sobre a obra do historiador Yuval Harari.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

4 comentários em “Há quanto tempo estamos por aqui?

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