Em seus diálogos com a comunidade, o Observatório Judaico dos Direitos Humanos Henry Sobel escalou a historiadora Lucia Chermont para mediar conversa com três cientistas candidatos à Câmara Municipal de suas cidades: Carol Moreira (12051, em Porto Alegre), Gui Cohen (40100, no Rio de Janeiro) e Mariana Moura (65300, em São Paulo).
A líder paulistana dos cientistas engajados foi a primeira signatária da carta de princípios do Observatório e co-autora da saudação à comunidade judaica por ocasião do ano novo, transcorrido em setembro. Preocupada com o custo em vidas e dinheiro público que a anti-ciência tem afligido o país, propõe quatro pilares para resolver os problemas de São Paulo em bases científicas: financiamento da ciência; seu uso na gestão pública; educação científica e incentivo à participação feminina nas ciências.
O carioca Guilherme acredita que é possível tornar a cidade maravilhosa para todos a partir da politica e da educação, sua missão de vida. Toda a política pública deve ser baseada em evidências e fruto do diálogo entre diferentes. A gaúcha Carol, a seu turno, clamou pela urgência do resgate do direito de ser jovem, com mais oportunidades de trabalho e cultura na cidade. Defendeu também a paradiplomacia, para integrar o saber do mundo inteiro nas ruas e nas praças.
Após a apresentação das plataformas científicas de Mariana (65300 em SP), Guilherme (40100 no Rio) e Carol (12051 em Porto Alegre), Chermont apresentou três questões ao debate.
Desenvolvimento e redução de desigualdades
Desenvolvimento é mais que crescimento: é o acesso maior aos direitos constituintes aos direitos dos brasileiros; só há desenvolvimento se o crescimento se traduzir em redução das desigualdades, apontou Mariana Moura. Carol Moreira adicionou que educação e conhecimento com tecnologia e ciência permite não só ocupar posições de destaque nas empresas, como mesmo a própria existência destas. O desenvolvimento é o pressuposto fundamental para o cumprimento dos direitos fundamentais, completou. Cohen lembrou do papel redutor que o novo Fundeb tem na redução das desigualdades a partir da educação.
Fortalecer a ciência contra o obscurantismo
A política baseada em currais eleitorais, em vez de evidências científicas, é um atentado ao bom senso e um crime contra a vida e a humanidade, afirmou Cohen. Já Moreira lembrou que o obscurantismo manipula informações e barra o acesso à verdade, cabe à ciência a desmistificação. Moura lembrou que a ciência é a luz que ilumina o caminho, cabe aos gestores públicos escolhidos pela população fazer o seu percurso. Para isso, a ciência precisa chegar ao parlamento e às prefeituras, precisa do voto popular.
Luta contra o antissemitismo
Os três expositores foram unânimes: é preciso coibir todo o tipo de intolerância; preocupar-se só com a agressão a determinado grupo o expõe a ataques mais adiante. Afinal, como ensina o Tigre Branco, o fascismo está aí, atrás de você.
A citação final de Mariana Moura do poema de Eduardo Alves da Costa (No caminho, com Maiakóvski) coroou o diálogo:
“Primeiro eles levaram os socialistas e eu não protestei porque eu não era socialista.
Depois levaram os sindicalistas, e eu não protestei porque não era sindicalista.
Depois eles vieram pelos judeus, e eu não protestei porque não era judeu.
Então eles vieram por mim, e já não havia ninguém para protestar por mim.”
Um comentário em “Ciência contra o obscurantismo e as desigualdades”