O equivalente universal

Antes de adentrar à nova moeda digital chinesa convém esclarecer um pouco mais sobre a nova forma de se criar dinheiro, de se emitir moeda de modo privado e dar valor a um conjunto de bits e bytes registrados não se sabe exatamente aonde.

Felipe Leonard já havia ilustrado em O futuro é das máquinas? sobre as possibilidades que elas trazem à materialização da criatividade humana e o evento da inteligência artificial como modernidade última da espécie.

Doze anos já se passaram desde que alguém resolveu criar uma quantidade de meios internacionais de troca a que se deu o nome de bitcoin, ou moeda digital, em tradução literal.

Desde que os sapiens adquiriram a particular capacidade de criar excedentes de produção puderam permutar as utilidades sobrantes do seu consumo por outras que precisassem, mas que fossem produto do trabalho de outrem. A variedade de itens na prateleira, no entanto, dificultava o funcionamento do mercado que se formava.

Uma forma simples e aparentemente justa de faze-lo seria considerando o esforço necessário para produzir uma peça do produto. Assim, se uma pintura na caverna levasse quatro dias para ser feita enquanto em apenas um fosse possível produzir uma ferramenta de pedra lascada, o pintor teria direito a quatro destas pela decoração da moradia do lascador.

Mais à frente veio o salário. Aquele punhado de sal pago aos soldados romanos pelos serviços prestados ao Imperador, com o qual podiam comprar coisas de outras pessoas que, por sua vez, compravam de outros, pagavam tributos e assim por diante. Já vivíamos então a Era Monetária.

Produção cinematográfica indicando o apoio dos romanos ao valor do sal

E o que dava valor ao sal distinto do seu uso como tempero alimentar e elevador da pressão arterial? Uma crença generalizada, como bem definiu Harari, de que o mineral, como o ouro séculos depois, tinha valor de troca, crença essa apoiada por forte ameaça militar, com o recente caso do dólar dos EUA pós-Hiroshima.

Mesmo na etapa capitalista das relações humanas, o dinheiro guarda o papel de equivalente universal das mercadorias, e assim deve permanecer enquanto elas existirem. Avançou, nos séculos recentes, para equivalente do excedente não consumido, que alguns tomam por propriedade sua ou coletiva – sociedades e mesmo países.

À venda

O próprio dinheiro adquiriu caráter de mercadoria quando a tecnologia facilitou a sua compra e venda. Cada dinheiro tem a sua confiança popular e um valor de troca entre uma e outra espécie.

No próximo artigo vamos tratar da criptomoeda, algo bem antigo travestido de coisa ultramoderna.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

7 comentários em “O equivalente universal

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