
Conheci o artigo de Felipe Leonard* ao conferir a edição do Jornal dos Bairros de Egydio Coelho e Haroldo Lago, que contemplou uma opinião nossa sobre soberania nacional.
Compartilho o conteúdo pela clareza em unir o diferencial humano da criatividade a serviço da Natureza, com o uso da contemporânea técnica da inteligência artificial.
“No século 21. a tecnologia promove mudanças profundas nos ciclos de produção. Assim, a grande questão é se nossas profissões vão continuar existindo ao longo dos próximos anos ou se, ao contrário. seremos substituídos por máquinas. Esse dilema, típico da nossa era, motiva diferentes especulações, desencadeia muitas previsões a respeito e gera ansiedade, medos e rcsistência cm muitas pessoas, sociedades e países. Muitos acreditam que o futuro é pior e que, por isso, temos que resistir à sua chegada! Será mesmo?
O McKinsey Global Institute estima que metade das tarefas existentes no mundo do trabalho já pode ser realizada por robôs. Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai além e aponta que, na grande maioria dos países participantes da organização, 47% das atividades laborais tendem a ser afetadas pela automação. sendo que robôs e computadores podem promover mudanças, ou mesmo, eliminar cinco em cada dez empregos.
Mas antes de se conformar com os desdobramentos dessa ameaça tecnológica. é preciso que nos lembremos de nosso maior trulnfo. Ele vai muito além do poder que nos conferem as cem trilhões de conexões que turbinam nosso cérebro: reside no potencial de criar, imaginar. sonhar e no que talvez seja a conquista mais elevada do ser humano: a capacidade de empatia, de se colocar no lugar do outro.
Não vamos contrariar o fato de que Inteligência Artificial é, provavelmente, o maior evento da história contemporânea. Por outro lado, os robôs, até o momento, estão longe de substituir a nossa capacidade criativa e, principalmente. as habilidades humanas. Robôs são excelentes em “simular”, mas apenas nós, seres humanos, conseguimos “ser”.
Pode não parecer, mas Albert Einstein e Pablo Picasso têm muito cm comum. O primeiro publicou, em 1.905, artigos que deram origem à famosa teoria da relatividade. Dois anos mais tarde. o segundo concluiu o quadro Les Demoiselles d’Avignon, considerado o grande marco do cubismo.
Algo, porém. uniu ciência e arte: sim, a criatividade. Quem afirma é o filósofo e historiador inglês Arthur I. Miller. Segundo ele, tanto Einstein quanto Picasso teriam devotado a vida a esse potencial humano. Isto é, à possibilidade de produzir algo novo, mesmo que a partir de conhecimentos anteriores.
Segundo o psicólogo americano Dean Keith Simonton, a criatividade reside em diferentes níveis. que envolvem originalidade e utilidade. Assim. além dos gênios, esses seres humanos com potenciais raríssimos, que trazem à tona produções incrivelmente impactantes, temos também pessoas capazes de propor soluções úteis para os impasses do cotidiano. Todos podem, à sua maneira, transformar o mundo.
Da queda da maçã, que levou Isaac Newton a desenvolver a Lei da Gravitação Universal, aos insights que culminaram em aplicativos que dão cabo de realizar quase tudo em nossos celulares, as maiores descobertas humanas têm como gênese a observação. E ela pode ser esmiuçada em outras caracteriíticas humanas também impossíveis de programar: perceber, sentir e gerar satisfação. É por meio dessas habilidades que compreendemos o cenário que nos cerca, entendemos o que nos falta e tratamos de solucionar demandas variadas, nossas e dos outros. A própria história nos prova isso, em seus diferentes capítulos.
lnventamos a roda há milhares de anos. Depois, por volta de 3,4 mil a.C., ela se transformou cm peça essencial ao transporte. No século dezoito, fomos dos produtos artesanais para as fabricações em larga escala, que tiveram origem junto às primeiras aglomerações urbanas. Em 1969. levamos o homem à Lua. E hoje vencemos patologias com nanotecnologia e nos debruçamos em estudos sobre células embrionárias.
Difícil prever o que vem pela frente. Nesse ponto, o leitor poderia dizer: é fácil perceber o que nos trouxe até aqui.
O método descartiano poderia ser revisado hoje e reescrito como: pensamos, logo criamos. E isso vale para máquinas e robôs baseados em Inteligência Artificial.”

*Felipe Leonard é Presidente e CEO da S.I.N. Implant System. Coluna originalmente publicado no Jornal dos Bairros de 30.4.2020.
2 comentários em “O futuro é das máquinas?”