Rememorando o que se costuma chamar de carreira, aquele período entre o primeiro registro em carteira e a aposentadoria, as duas últimas etapas coroaram uma ascensão que nem de longe foi principalmente salarial.
O sopro congênito que desde jovem me penalizou nas atividades de educação física serviu de motivo concreto à minha desejada dispensa do serviço militar. Sequer era ainda tempo da anistia, embora o ar que respirávamos fosse bem mais ameno do que dez anos antes. Este então jovem civil tinha ojeriza das práticas que certos comandantes pareciam impor à tropa, levando-a a atacar brasileiros que almejavam um Pátria livre.
Justiça Militar da União
Um conjunto de fatores, já neste século, permitiu redimir-me com as obrigações à quais talvez tenha faltado outrora: o aperto monetário levou-me a buscar colocação pública e o sucesso trouxe-me à Justiça Militar da União, como técnico judiciário.
Os catorze meses que trabalhei na 2ª Auditoria Militar, em São Paulo, ensinaram-me muito sobre a vida nas casernas e sobre o Direito Criminal. O convívio com experientes colegas e os que comigo foram admitidos, juízes militares, procuradores da Justiça e até mesmo indiciados por crimes e seus condutores que lá compareciam foi bastante instrutivo. Foi, por outro lado, o meu “serviço militar obrigatório”, ainda que tardio.
Entre um e outro processo foi possível também estudar casos que já eram da História, como os processos por infração à Lei de Segurança Nacional e a tortura de cidadãos brasileiros ou o seu puro e simples desaparecimento. Muitos eu conhecia de nome, outros tive o privilégio de conhecer em pessoa.
Banco Central do Brasil
Em 2006 tomei posse como Especialista do Banco Central, também em São Paulo, na sede da Av. Paulista. Os treze anos que lá fiquei foram dedicados à Supervisão de Bancos e Conglomerados Financeiros, mas aprendi também um pouco sobre regulação, monitoramento e organização do Sistema Financeiro Nacional.
Como de economista e de louco todo mundo tem um pouco, fui confirmando suspeitas de o capital financeiro, a fusão do capital industrial com o bancário, sob hegemonia deste, comandar o país e as relações de troca internacionais nos dias de hoje.
Vinculei-me ao sindicato dos funcionários da autarquia e fui indicado dirigente da categoria econômica. Participei não só das lutas e conquistas de melhorias das condições de trabalho e renda dos representados, mas também pela integração do conjunto dos servidores públicos à luta em defesa da sociedade e ao direito ao seu quinhão no progresso social e econômico do Brasil.
Meus períodos de capacitação, além de uma plêiade de cursos sobre normas e técnicas de supervisão e gestão pública, permitiram produzir monografias sobre o Artigo 192 da Constituição Federal, que preconiza a organização do sistema financeiro para promover o desenvolvimento equilibrado do país e atender às necessidades da coletividade. Um resumo pode ser conferido nos artigos da Por Sinal: Desenvolvimento Equilibrado, um Novo Conceito e O Interesse Nacional.
E o privilégio?
Como diz a famosa propaganda, participar da construção do Estado nacional não tem preço, é um privilégio consagrar o nosso tempo, saber e generosidade à essa tarefa.
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