A manutenção da Selic elevada atestaria a incompetência da diretoria do Banco Central em desinflacionar a economia brasileira?

Um antigo e conhecido dito popular recomenda serrar os pés da cama ante gastar fortunas com os caça-fantasmas, se o objetivo é eliminar os seres fantásticos que se escondem sob o colchão.

O Copom reunido esta semana, no entanto, resolveu manter a marca de 13,75% para o juro básico anual da economia brasileira, a meta da taxa Selic, um custo distante de qualquer parâmetro internacional. A explicação, nesta sexta rodada de pico em nove meses, traz aqui e acolá a verificação de sinais de possível retomada da inflação se o amargo remédio monetário não se repetir por mais 45 dias, pelo menos.

Se a política monetária tivesse sido eficiente nestes últimos doze meses, teria dizimado os fatores de pressão sobre os preços e permitido ao Brasil voltar a trabalhar para crescer a economia e distribuir renda, pois o próprio colegiado reconhece em comunicado que, “em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho”.

O senso comum indica, e o Banco Central inclusive aponta na sua página, que as expectativas de inflação conduzem a um aumento de preços pelos comerciantes e prestadores de serviço. A subsequente medição do IBGE e da FGV acaba por conferir a ocorrência de mais inflação, não só porque os juros pressionam os custos, mas também porque induzem a um aumento preventivo geral dos preços na economia.

A obrigação legal da Autoridade Monetária para com a Nação não se resume, desde que a autonomia do BC foi reconhecida em Lei Complementar, à estabilidade dos preços e à solidez e eficiência do sistema financeiro; é-lhe demandado também fomentar o pleno emprego, e a corrente política monetária, não só por atacar o “resiliente mercado de trabalho”, parece longe de ajudar a difícil situação do Brasil que trabalha.

Como resumido na cobertura da Hora do Povo:

O desemprego hoje afeta mais 9,4 milhões de pessoas no Brasil. O contingente de pessoas consideradas subutilizadas na força de trabalho representa quase um quarto da população economicamente ativa do país. A indústria, o comércio e o setor de serviços estão em plena queda de desempenho das suas atividades frente ao baixo nível do consumo de bens e serviços no país.

Qualificar a ação dos agente público indicado para presidir o BC pelo ex-presidente da República e avalizado pelo Senado Federal como incompetência omite um detalhe não de somenos importância: cada ponto percentual da Selic impacta o Tesouro Nacional em cerca de R$ 32 bilhões anuais.

Recursos que deixam de ser usados no investimento público e na melhora das condições de vida da população, unicamente para cevar cofres nada magros dos reis da ciranda financeira. Atribuir ao governo Lula a responsabilidade pela iminente piora da economia e do tecido social brasileiro no próximo período parece ser um brinde adicional oferecido a eles.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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