Idalvo Toscano

Acordo com o comentário de minha mulher sobre a FOME de cidadãos nos postos de atendimento de saúde. Um rapaz desmaia de fome, uma gestante é confundida com uma usuária de drogas pela médica de plantão tamanho abatimento e prostração, outra pessoa desfalece na fila: 2 dias sem comer!
É notória a normalização destes casos, só mencionados pela mídia para distrair a atenção dos ouvintes na mescla de tempo que antecede as novelas e seriados. Transmissão sem indignação com o sofrimento do outro. Não há partilha do sofrimento alheio (compatior, do latim).
Não se trata de se compadecer com a situação específica do outro e, assim, ofertar uma esmola (um dos sinônimos da compaixão). Embora importante, esta se limita ao indivíduo, quando se trata de termos participação espiritual na infelicidade de OUTREM, tomada aqui em seu sentido plural. Assim, suscitar um impulso altruísta de TERNURA para com os demais, humanos e sencientes.
Repugna-me a FOME, pois ela atenta contra o viver pleno que só pode existir nas relações entre os seres no espaço comunal. Somente o “homem coletivo” é capaz de transformar e romper com as cadeias que aprisionam o bem viver.
A FOME é uma bofetada em sociedade, um acinte à vida e não um “fenômeno” sanitário e/ou econômico.
A FOME deixa desnuda a inoperância dos artefatos sociais construídos ao longo da jornada civilizatória do mundo atual.
A economia da elite falhou e falhou porque não há interesse em “… criar novos conceitos e articulações para abarcar fenômenos novos, EM VEZ DE BUSCAR ENCAIXAR ESSES FENÔMENOS EM PADRÕES DE JULGAMENTO PRECONCEBIDOS. [Bernstein / Arendt].
A falácia do equilíbrio fiscal, do direito à propriedade intelectual, do Estado mínimo, da naturalidade da concentração de renda etc., leva a uma catástrofe iminente dos apetrechos com que erigimos o mundo em que vivemos.
O planeta está em colapso.

Idalvo Toscano é economista, com especialização em Planejamento Urbano pela FGV, e funcionário público aposentado do Banco Central do Brasil.
A crônica do Idalvo expressa em boa medida o que pensamos. Sobre a inumanidade da fome, leia também o estudo de Frederico Lopes e o manifesto do CNAB.
2 comentários em “UM MUNDO EM TOTAL DESEQUILÍBRIO”