Movimento internacional de capitais desfavorável ao Brasil

O magnata inglês Barão de Rothschild proferiu a tristemente famosa lição sobre a acumulação financeira nos anos 1820, enquanto fazia fortuna às custas da batalha de Waterloo:

Compre quando existir sangue nas ruas, mesmo se for o seu

O também magnata John D. Rockefeller reproduziu o ensinamento um século mais tarde, um formador de fortuna monopolista que incluiu o petróleo, o aço, as ferrovias e, consolidando tudo, o Bank of America, ainda hoje um dos maiores do mundo.

No Brasil de hoje, mesmo antes da grave crise sanitária que já ceifou 350 mil vidas em um ano, “sangue nas ruas” nunca antes visto em tal intensidade na história do país, a depressão econômica já se fazia sentir há pelo menos meia década.

E o que sucedeu na atividade empresarial por aqui?

A PricewaterhouseCoopers (PwC) e a KPMG, que entre outras atividades ajudam na concentração e centralização do capital, em escala global, trazem alguns elementos que ajudam na resposta.

Fusões e aquisições, segundo a PwC

A consolidação dos capitais dá-se por diversos mecanismos. Os gráficos acima, da PwC, ilustram que, no caso do Brasil, os dois mais relevantes são as aquisições, em geral ao modo Rothschild/Rockefeller, de empresas por concorrentes mais poderosos ou grupos em busca de novas oportunidades de monopolizar; e a compra (a linha amarela) de participações minoritárias, reduzindo o leque de capitalistas no controle das atividades econômicas. Associações e fusões também concentram, visto que sempre uma das partes terá voto mais qualificado que a outra nos destinos dos negócios e até do país.

Mas não se trata, como se vê dos números coletados pela KPMG, de um rearranjo só entre brasileiros, embora alguns, como os Ometto e os Setubal, ainda detenham certa relevância nos negócios que participam.

A consultoria traz a público o cenário de operações de fusões e, principalmente, aquisições de empresas sediadas no Brasil e suas subsidiárias no exterior. Os dados disponíveis abrangem 17 dos 24 trimestres compreendidos entre 2015 e 2020.

No período analisado, foram 1435 as transações em que estrangeiros ficaram com capitais outrora nacionais. Mesmo descontados os 301 negócios em que os brasileiros ficaram donos do todo ou parte de empresas de fora, aqui ou no exterior, resta líquida uma desnacionalização da nossa economia, durante a crise instalada em 2015 e não resolvida até hoje, antes agravada pela pandemia, de 1134 unidades empresariais, que se tornaram geradoras de resultados econômicos para fora do país.

Se o movimento é próprio do desenvolvimento capitalista, é política a opção entre resistir, aceitar ou facilitar o processo. A subalterna e persistente “abertura comercial”, adversa ao interesse nacional, do presente período democrático parece só aprofundar a dependência do Brasil, que se reprimariza, exporta empregos e traz de fora, cotados em moeda estrangeira, produtos tão complexos como um trilho de trem.

Dizia Caxias, Patrono do Exército, sigam-me os que forem brasileiros.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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