Sobre a prática

Mao Tsé Tung

Poucas semanas antes de, em 1937, publicar Sobre a Contradição, Mao Tsé Tung refletia sobre a prática e sua indissociabilidade da teoria e da razão. O que legou ao chineses de então e às gerações humanas futuras foi uma síntese da visão materialista dialética do conhecimento.

Para o marxista chinês, tanto o empirismo, que se basta no ativismo, como o racionalismo, que a tudo procura deduzir, são ferramentas incapazes de permitir a compreensão plena dos fenômenos naturais e sociais.

No processo do conhecimento, afirma Tung, o primeiro grau é o da “percepção sensível, isto é, o grau das sensações e das representações”. Ele prossegue:

A continuação da prática social implica a múltipla repetição de fenômenos que suscitam sensações e representações no homem. É então que se produz na consciência humana uma mutação súbita (um salto) no processo do conhecimento: o aparecimento dos conceitos. O conceito já não reflete mais os aspectos exteriores dos fenômenos, os seus aspectos isolados, a sua ligação externa; ele capta a essência dos fenômenos, os fenômenos no seu conjunto, a ligação interna dos fenômenos.

Formulada uma teoria, é preciso voltar à prática social dos conceitos, pois pela repetição dos “resultados esperados é que os homens recebem a confirmação da verdade dos seus conhecimentos”, ensina Mao. Erros na interpretação dos dados captados pelos sentidos, ou da própria percepção da realidade podem ser corrigidos, até que se obtenha uma teoria justa.

Por evidente, o contato pessoal com a realidade pode ser direto ou indireto, situação em que um outro sapiens recebeu as sensações e as registrou, para seus contemporâneos e inclusive aos que ainda estavam por nascer.

Nesse ponto, “metade do problema ficaria esgotado”, continua ele. “A questão mais importante não é compreender as leis do mundo objetivo e poder, por isso, explicá-lo, mas sim utilizar o conhecimento dessas leis para transformar ativamente o mundo.”

Assim, verifica-se infinito o processo de aprendizagem, pois as novas realidades construídas a partir da ação humana consciente produzirão novas sensações, novas leis do desenvolvimento da prática vivida, nova prática social e novas transformações.

Para esta sinopse, adaptamos para o português falado no Brasil a tradução de Fernando Araújo das Obras Escolhidas, publicadas na China em 1952, disponível em marxists.org.

Tema correlato: Sobre a Contradição, Mao Tsé Tung, 1937

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

5 comentários em “Sobre a prática

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