
Na mesa de debates sobre alternativa socialista do Seminário da Fundação Maurício Grabois “PCdoB centenário e contemporâneo“, Carlos Lopes também tratou dos efeitos da desnacionalização no “setor dinâmico para o crescimento do país, a indústria da transformação“.
Sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED), Lopes lembrou que a apologia a ele “nunca deixou de existir em nosso país, mas adquiriu fúria redobrada com o neoliberalismo, em especial no governo Fernando Henrique e depois”.
“Havia até mesmo a teoria de que o IED é mais benéfico ao país do que o capital meramente especulativo (Investimento Estrangeiro em Carteira), porque seria investimento em empresas, ao contrário do outro, que é investimento em papéis, em geral títulos públicos”, complementou, esclarecendo que, “no entanto, o problema são os danos que o Investimento Estrangeiro Direto causa à economia nacional”.
Sumariamento, segundo Lopes, são eles:
Primeiro: a maior parte do Investimento Estrangeiro Direto não entra no país para instalar novas fábricas ou unidades de produção, mas para comprar empresas brasileiras, que passam, assim, a ser filiais estrangeiras, remetendo lucros para o exterior, que antes ficavam aqui.
Segundo: uma parte dessas empresas compradas pelo IED são fechadas, para que a produção nacional seja substituída por importações.
Terceiro: uma parte do IED é composto por empréstimos intra-companhias, ou seja, empréstimos entre matriz e filiais, sem nenhum benefício para o país.
Quarto: o efeito geral é a desindustrialização, com a primarização crescente das exportações, ou seja, a diminuição da parcela de produtos industriais e aumento da parcela de produtos primários nas exportações, com a consequente deterioração dos termos de intercâmbio, isto é, troca desigual com o exterior.
Quinto: os investimentos feitos pela filiais e subsidiárias das multinacionais são realizados com recursos (lucros e empréstimos obtidos inclusive em bancos oficiais) dos países em que estão instaladas – e não do país onde se encontra a sua matriz – aumentando o grau de espoliação a esses países.
Sexto: o estabelecimento sistemático de operações de superfaturamento e subfaturamento nas relações de compra e venda entre a matriz, nos países centrais, e as filiais, nos países dependentes. Esta é uma forma especialmente predatória para países como o Brasil (veja Constantine V. Vaitsos, Distribuição de Renda e Empresas Multinacionais).

Carlos Lopes é psiquiatra, diretor da Hora do Povo e vice-presidente do PCdoB. Autor também de Frente Ampla Democrática: experiências acumuladas e possibilidades atuais.
Íntegra do pronunciamento: A Revolução Brasileira e o socialismo.
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