Frente Ampla Democrática: experiência acumulada e possibilidades atuais

Carlos Lopes, na Hora do Povo

Apresentamos a seguir uma síntese da extensa e precisa análise do diretor do jornal e dirigente do PCdoB a respeito do combate ao fascismo no Brasil de hoje, que certos setores procuram condicionar a interesses menores que o da vida e da independência nacional.

No momento atual, em que alguns pretendem instalar outra ditadura no Brasil – segundo Bolsonaro, uma ditadura muito mais estúpida e sanguinária que a anterior -, lembrar o que foi aquela época [1978] é um exercício saudável contra quaisquer hesitações na luta contra essa tentativa.

Já houve episódios da História do Brasil em que se falou em “frente ampla” sem que isso correspondesse a um conteúdo amplo – e, talvez, nem a um conteúdo de verdadeira frente. É conhecido o episódio, após o golpe de 64, em que Lacerda – o golpista-mor, até ser afastado da sucessão presidencial – tentou atrair os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, então fora do país, para algo que chamava de “frente ampla”. Essa articulação foi rejeitada amplamente dentro do Brasil.

Entretanto, houve, na luta contra a ditadura, um exemplo de frente ampla democrática bem sucedida: aquela formada em torno da candidatura de Tancredo Neves, que derrotou a ditadura em seu próprio colégio eleitoral. Com certeza, até se formar essa frente, houve várias tentativas, algumas que já mencionamos, e, claro, o movimento das Diretas-Já.

Com o cuidado de ressalvar que uma parte não pequena da população era – e continuou – escrava, é possível dizer que, na Independência, houve, com a adesão dos republicanos à estratégia de José Bonifácio, uma frente ampla, de caráter estratégico, para efetuar a nossa separação de Portugal.

A situação de hoje é diferente, porque trata-se de impedir que uma ditadura se instale no país – e não de derrubar uma ditadura já existente.

O fascismo é sempre um regime de minoria, um regime em que a maioria é submetida a uma ditadura que somente conta com um apoio minoritário da população. Esta é a razão porque Hitler e Mussolini eliminaram as eleições da Alemanha e da Itália, mesmo se dizendo com apoio da população. Eles sabiam que isso não era verdade.

Bolsonaro reza todos os dias, ao acordar e ao dormir, por uma crise social maiúscula, seja por causa da covid ou por causa da fome. Ele torce pelo desespero da população que leve a revoltas, quebra-quebras, saques. Tudo o que precisa é um estado de convulsão social para impor medidas de exceção, ‘pelo bem da paz pública’ ou ‘pela defesa da propriedade’” (v. Jean Marc von Der Weid, A ameaça de golpe no sete de setembro e além).

Exatamente por isso, porque existe uma conspiração contra a democracia em andamento – e uma conspiração aberta, que nem mesmo é disfarçada minimamente – que a frente ampla democrática é necessária.

Setores burgueses ou pequeno-burgueses tendem a desmontar a frente ou a não constituí-la, exatamente por apego a seus interesses particulares, muitas vezes, mesquinhos. Uma frente de tal amplitude, reunindo da classe operária e demais trabalhadores até os banqueiros, isso não significaria a submissão dos interesses do povo aos dos exploradores?

Há dois aspectos na resposta a essa questão:

O primeiro, é que a ausência de democracia é um prejuízo maior para o povo do que para os grandes empresários e banqueiros. Portanto, a luta para impedir Bolsonaro de instalar uma ditadura interessa mais ao povo que aos grandes empresários e banqueiros.

O segundo aspecto é que a frente ampla democrática não implica em suspender ou anular a luta dentro da própria frente, isto é, a luta pela direção do movimento democrático. Somente, o campo da disputa será dentro da oposição ao fascismo, ao golpe de Estado, à ditadura. (1.837 palavras, Hora do Povo)

Leituras adicionais recomendadas: Sobre a ascensão do nazismo e a frente ampla; e Quão ampla pode e precisa ser a frente democrática.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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