O grupo Além das Urnas, criado em 2018 para acompanhar o desempenhos dos titulares de Poder delas advindos, trouxe o Professor de Economia da UNB José Luis Oreiro e o também economista Gabriel Galípolo, hoje presidente do Banco Fator, para discutir as políticas monetária e fiscal do Brasil de hoje.
A conclusão que intitula este artigo vem da observação da realidade: nos anos de superavit fiscal os juros de curto prazo e a inflação eram mais altos que hoje, quando o déficit das contas públicas aproxima-se do PIB.
O professor explicou o porquê. Se gastos previdenciários crescem ano a ano, com as novas aposentadorias e a crescente longevidade humana, o custeio do Estado e os investimentos públicos são reduzidos pela imposição de um teto de gastos. De um lado, menos serviços podem prestados; do outro, a economia cresce menos.
A depressão econômica deste ano pode trazer um resultado indesejado pelos ultraliberais, completou Galípolo: com inflação positiva e PIB encolhendo, o teto de gastos fará o Estado maior em relação ao setor privado. Adepto do conceito de Marshall – a economia é uma ciência moral, para melhorar a vida das pessoas -, o banqueiro defendeu a qualidade do gasto público e a necessidade de desenvolvimento para gerar mais operações de crédito, que são a finalidade dos bancos.
Duas perguntas
Por que a alta dos preços do arroz e outros produtos não tem tido impacto na inflação, que deverá fechar o ano abaixo do piso da meta?

Oreiro explicou que a inflação é medida por uma cesta de gastos. O IPCA, por exemplo, considera o consumo de famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos. Como a inflação de serviços é baixa há bom tempo, a alta dos alimentos não trouxe impacto significativo no cálculo do aumento médio dos preços.
Por que há 15 trilhões de dólares – quase um PIB dos EUA – investidos mundo a fora a juros negativos?

O especialista em finanças explicou. A nova modalidade rentista aposta na queda ainda mais acentuada dos juros no futuro. Quando um aplicador compra um papel de longo prazo, ele paga no presente uma fração do valor que o emissor promete pagar no vencimento. O cálculo é estimado com a avaliação dos rumos que os juros de curto prazo tomarão no futuro, de acordo com a política monetária soberana do Estado. Sempre que o juro de curto prazo diminuir mais que o negociado originalmente, o preço do ativo financeiro sobe!
Os convidados asseveraram que nem o Estado, emissor soberano de moeda, pode ser comparado a uma família e seus gastos, nem dever mais que o PIB é problema, se isso significar desenvolvimento econômico, social e ambiental para as futuras gerações.
O Reino Unido, por exemplo, terminou a sua participação na segunda guerra devendo quase 2,5 vezes o PIB, e hoje oferta um sistema de saúde gratuito a todos os cidadãos de lá que, inclusive, reembolsa o transporte do usuário e subsidia seus remédios, conforme assistimos em Sicko, o documentário de Michael Moore.
5 comentários em “Teto de gastos prejudica o desenvolvimento e não rebaixa juros nem inflação”