
A segmentação do espectro político está bem ilustrada na figura representativa do parlamento revolucionário francês do final do século 18: a bancada burguesa estabelecida à direita da mesa, oposta à dos proletários, ocupando as cadeiras à esquerda dos dirigentes da assembleia.
O elemento essencial para a classificação do indivíduo é o seu compromisso de classe, não a sua origem. No Brasil de hoje, mistura-se ingênua ou oportunisticamente os dois conceitos para apresentar certas lideranças como representantes de interesses opostos, quando de fato estão do mesmo lado.
Muita gente no Brasil procura apresentar os governos encabeçados pelo Partido dos Trabalhadores como “de esquerda”, quando a tônica, não obstante o discurso e certa distribuição secundária de renda com o uso de programas sociais, foi a manutenção do caminho liberal que coloca o país sob o tacão da grande finança internacional. Transferência de campos minerais, indústrias nacionais e especialmente dinheiro em espécie o faziam de fato parecido com seus antecessores e sucessores.
Surge no debate uma máxima gobeliana, que se quer transformar em verdade pela extensa repetição: “a esquerda quebrou o Brasil”! Alguns avançam a dizer que “todo país governado pela esquerda faliu”!

Tanto a pujança econômica da China, que caminha para ocupar o primeiro posto entre as economias mundiais, quanto o papel condutor do Partido Comunista Chinês sobre os negócios de Estado por lá são bem conhecidos de todos.
O que se fala menos é da trajetória soviética do arado ao espaço em quarenta anos, com uma guerra mundial no meio.
Compilação do estadunidense RW Campbel em 1961, trazida à Revista de Economia Brasileira por Lucia Silva Kingston, é esclarecedora dos ritmos daqueles tempos.

A economia soviética multiplicou-se por não menos de sete vezes – vinte, segundo os dados oficiais, após os dois primeiros planos de Estado quinquenais, quando a eletrificação do país já havia avançado bastante. A preponderância da indústria e, dento dela, os setores de base, produtores dos meios de produção, é fato que muito contribuiu para tal feito histórico.
A sucessiva introdução de elementos do capitalismo após a morte de Stalin fez o país regredir. Mesmo assim, a força do sistema soviético ainda fez a produção avançar mais rapidamente do que nos EUA por vários anos.
No Brasil de hoje, a linha central do espectro político situa-se entre a independência e a submissão a estrangeiros da economia nacional. Neste segundo campo gravitam com mais ou menos afinco, com mais ou menos competência, os governos recentes e parasitas que de alguma forma lucram com as migalhas deixadas na margem direita.
Bolsonaro é apenas o exemplo mais apodrecido desse campo antinacional.
Do outro lado, do lado “esquerdo”, do lado do Brasil, estão os quatro patronos da nossa página de capa e centenas de milhões de brasileiros interessas no reencontro do país com o seu destino de grande Nação.
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