A crise do neoliberalismo e tendências atuais da financeirização

Como parte da programação do simpósio “Desafios brasileiros em direção ao novo ciclo de desenvolvimento soberano”, a Fundação Maurício Grabois trouxe três economistas para conversar sobre financeirização, em mesa coordenada por Nereide Saviani.

O professor Miguel Bruno, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, trouxe detalhada apresentação sobre a necessidade e possibilidade de o Brasil ter seu próprio modelo de desenvolvimento econômico e social.

Ele lembrou que o país viveu um ciclo desenvolvimentista a partir de 1947, com a indústria como elemento mais relevante do processo. Hoje carece de investimentos nesse setor, que poderiam advir do resultado do comércio das comódites. O ambiente macroeconômico como um todo é voltado a favorecer o mercado financeiro e, em menor escala, o agronegócio. Este se vincula com o rentismo por meio dos derivativos agrícolas e papeis assemelhados.

Os gastos públicos podem, a par de devolver em serviços a parte arrecada da atividade econômica, dinamizar a economia, mas estão limitados pelo arcabouço fiscal vigente. O endividamento crescente do país advém dos juros elevados, não da folha dos servidores e dos investimentos.

Trata-se, para o acadêmico, de uma mentalidade pré-keynesiana: “o regime de acumulação financeira está subordinado à revalorização rentista e financeira dos capitais”, concluiu.

À sequência palestrou o titular do Instituto de Economia da Unicamp José Carlos Braga.

Ante a diversidade de conceitos aplicados ao termo “financeirização”, o professor prefere “dominância financeira”, para expressar a dominância do capital como evolução lógica, histórica, do capitalismo, ressaltando não se tratar de qualquer degeneração.

É o momento, em contradição à busca do pleno emprego preconizada por Keynes, em que o lucro provém cada vez mais do capital fictício, distribuído por diversos ativos financeiros. Nos EUA, por exemplo, partiram do aço, ferrovias e petróleo para os bancos, ganhando dinheiro nas duas pontas.

Braga assevera que o Brasil não possui, hoje, um projeto nacional de desenvolvimento. Mesmo governos progressistas se fazem reféns da financeirização que conta, nas sucessivas crises, com aporte do Tesouro público e do Banco Central para desovar títulos podres. Os ajustes fiscais que foram promovidos em nome do crescimento econômico do Brasil produziram o efeito inverso.

A seu turno, o professor da Escola João Amazonas Marcelo Fernandes destacou que não há capital “bom” e capital “mau”, o capital transita da produção para as finanças e vice-e-versa conforme o capitalista veja maior perspectiva de lucros no momento.

Esse vai-e-vem é típico do período de fusão do capital bancário e industrial, assegurou. E lembrou que o Brasil chegou a ter um 3º Plano Nacional de Desenvolvimento logo após o goveno Geisel e seu segundo PND, mas o projeto não saiu do papel.

Nas considerações finais, os autores concordaram sobre o papel essencial do Estado para regular a evolução do capitalismo nesta etapa de dominância financeira, em que o bem-estar social é uma exceção. E que os governos brasileiros pouco têm feito para enfrentar o fenômeno, mostrando certa acomodação diante das crescentes contradições do desenvolvimento capitalista, presentes aqui e lá fora.

Em resumo, se faz urgente um novo projeto nacional de desenvolvimento para enfrentar e superar a atual fase da acumulação capitalista.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo e da Engenharia pela Democracia, conselheiro da Casa do Povo, Sinal, CNTU e Aguaviva, membro do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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