
Um grupo de economistas, cientistas políticos e engenheiros produziu e fez circular nas redes sociais o estudo que reproduzimos abaixo.
A inflação no Brasil tem múltiplas causas, mas uma das mais relevantes é a desproporção entre a expansão da demanda e a capacidade produtiva do país.
Diferente de economias concorrentes na exportação de bens de alto valor agregado, como China, Coreia do Sul e Alemanha (e recentemente Índia) o Brasil apresenta um crescimento lento da produtividade do trabalho, o que limita sua competitividade e agrava as pressões inflacionárias.
Políticas de expansão da demanda agregada, incluindo abordagens heterodoxas como a Teoria Monetária Moderna (MMT) e o keynesianismo estratégico, só podem ser eficazes se acompanhadas por aumentos significativos da produtividade.
Além disso, a ausência de uma política industrial voltada à formação de capital nacional e ao aumento da balança comercial compromete o desenvolvimento sustentável do Brasil.
- Inflação e Expansão da Demanda Sem Crescimento da Produtividade
Países que adotam políticas expansionistas bem-sucedidas, como a China e a Coréia do Sul, investem simultaneamente em inovação, infraestrutura e educação.
Isso permite que o aumento da demanda seja absorvido por um crescimento correspondente da oferta de bens e serviços, evitando pressões inflacionárias descontroladas.
No Brasil, no entanto, o estímulo ao consumo tem sido dissociado de ganhos de produtividade.
Os principais fatores que limitam esse crescimento incluem:
Baixo investimento em tecnologia e inovação: enquanto economias concorrentes investem massivamente em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil mantém patamares reduzidos de investimento público e privado nesse setor.
Educação deficitária e baixa qualificação da força de trabalho: a baixa escolaridade e a falta de treinamento técnico dificultam a absorção de tecnologias produtivas avançadas.
Infraestrutura precária: gargalos logísticos e deficiência energética aumentam os custos e reduzem a eficiência da produção.
Essa estrutura resulta em um ciclo vicioso onde a emissão de moeda ou o aumento dos gastos governamentais geram inflação porque não estimulam o crescimento sustentável.
- Keynesianismo Estratégico e a Necessidade de Formação de Capital Nacional
A teoria keynesiana aplicada ao desenvolvimento estratégico defende que o Estado pode desempenhar um papel fundamental na indução de setores produtivos estratégicos.
No entanto, essa abordagem só é eficaz quando articulada a uma política de formação de capital nacional, o que exige:
Superávit comercial sustentado: países como Coreia do Sul, Alemanha e China financiam seu desenvolvimento industrial com saldos positivos na balança comercial, garantindo investimentos contínuos em inovação.
Investimento produtivo direcionado: os estímulos econômicos precisam ser alocados para fortalecer cadeias produtivas internas, em vez de apenas expandir o consumo imediato.
O Brasil tem criado gastos públicos voltados para o consumo, sem um planejamento de longo prazo para inovação e produtividade.
Essa ausência de um modelo de crescimento sustentável impede que o país aproveite os benefícios das políticas keynesianas modernas.
- Comparação com Países Concorrentes e Perspectivas de Ajuste
Em comparação com economias concorrentes na exportação de bens de valor agregado, o Brasil enfrenta desafios estruturais que o afastam de uma trajetória de crescimento sólido:
Os dados evidenciam que países bem-sucedidos na exportação de produtos com alto valor agregado estruturam suas economias de maneira a garantir alta produtividade e competitividade internacional.
Para que o Brasil siga esse caminho, é necessário um redesenho das políticas econômicas, priorizando:
- inovação tecnológica massiva;
- qualificação urgente da força de trabalho para aumento da produtividade coletiva e aumento da competividade global do trabalho do Brasil;
- estratégia industrial voltada para o superávit comercial para formação de poupança nacional que sustente cadeias produtivas de bens de capital.
Sem essas mudanças estruturais, a expansão monetária e fiscal continuará resultando apenas em inflação e perda de competitividade, ao invés de crescimento econômico sustentável.

Um comentário em “Inflação no Brasil e a Baixa Produtividade do Trabalho: Um Diagnóstico Comparativo”