O capitalismo dos séculos 19 e 20 no Brasil

Após a apresentação do livro “O Brasil no capitalismo do século 21“, os autores apresentaram os três primeiros capítulos da obra, cada qual em uma aula do curso da Unicamp, referentes à construção do sistema no país, dos tempos do império até a corrente adoção do modelo neoliberal, em posição submissa no cenário global.

1 – O Brasil à deriva no capitalismo nascente

O professor Márcio Pochmann, titular de economia da Unicamp, explicou o período imperial e o início da República, pontuando que a globalização do regime capitalista começou por volta de 1850.

Na primeira metade do século 19 a nação hegemônica era a Inglaterra, industrializada e com domínio da energia para a atividade fabril e de locomoção. Adiante outros países se industrializaram, como os EUA, Japão e Alemanha, enquanto o Brasil começava tímidos movimentos em direção ao capitalismo: a propriedade privada da terra, o fim do tráfico negreiro, o código comercial, entre outros.

Na segunda metade do século 19 o Brasil envolveu-se na Guerra do Paraguai, extremamente custosa em vidas e recursos materiais. De um lado, a construção do Exército nacional, com sua demanda por materiais bélicos. De outro, o ocaso do Império.

O movimento político que redundou primeiro na abolição da escravatura e depois na República, não obstante as ações progressistas dos primeiros governos com a expansão da moeda de Rui Barbosa e a intenção de criar um parque industrial próprio, não contaram com o apoio da elite agrária, que pouco provia empregos aos ex-escravos e preferia consumir importados, trocados pelos seus excedentes de produção.

A virada do século presenciou o incentivo à imigração europeia, para servir de mão-de-obra especializada branca, em substituição à maioria da população, de outras etnias.

2 – O Brasil na conservadora modernização capitalista

Também este capítulo-aula foi conduzido por Pochmann. Trata-se agora do período que vai do final dos 1920 – crise da bolsa em Nova Iorque – até o início dos anos 1980 – a vitória do neoliberalismo no cenário econômico brasileiro.

Os conflitos globais reorientaram a hegemonia do sistema capitalista para os EUA, em especial com a vitória aliada sobre o Eixo nos anos 1940. País supervitário tanto em recursos naturais como na produção de manufatura, afirmou-se líder em um cenário com três outros atores: a URSS e seu desenvolvimento alternativo ao capitalismo; os Estados de bem-estar social; e o sul-global dependente e subdesenvolvido, então conhecido como terceiro-mundo.

No Brasil, após os insuficientes movimentos da 1ª República, a partir da Revolução de 30 a industrialização destravou, transformando o país agrário em industrializado. Embora a necessidade de formação de uma classe operário urbana fosse imperiosa e direitos trabalhistas tenham sido consagrados em lei, a modernização não contemplou nem a reforma agrária, em tempos de grande concentração da propriedade rural, nem a tributária, mantendo a incidência dos impostos maior sobre os mais pobres. Daí o caráter conservador da modernização.

A reação externa ao crescimento brasileiro, capitaneada pelos EUA, não tardou. Primeiro com Johnson que, alegando evitar uma “nova Cuba” nas Américas, patrocinou o golpe de 1964; adiante com Nixon, inconformado com o surgimento de um “novo Japão”.

Com a crise dos anos 1980, o Brasil migrante do campo para a cidade, concentrado na região litorânea, pagou caro preço, como se vê no bloco seguinte.

3 – O Brasil na desmodernização neoliberal

A professora da UFAL Luciana Caetano associou o neologismo “desmodernização” ao retrocesso brasileiro que se seguiu ao Consenso de Washington, a que o Brasil aderiu em posição subalterna.

O Brasil desindustrializou-se antes de consolidar uma base tecnológica própria nas indústrias manufatureira e extrativa, bem como na produção de energia, priorizando a agropecuária do ponto de vista fiscal e de financiamento para, com o resultado das exportações, trazer as máquinas e equipamentos necessários ao fazer nacional.

A modernização de 30 ocorreu centralmente no Sudeste brasileiro, criando fortes diferenças regionais. Nos tempos recentes, a atividade nos estados líderes migrou da indústria para serviços, enquanto em outras áreas menos desenvolvidas do país a indústria cresceu, mesmo com sua queda no índice nacional.

A desmodernização tem como agravantes a educação deficiente e os baixos salários, que prejudicam a ocupação de empregos de qualidade e o consumo das famílias, estímulo complementar à oferta, hoje decaída, no dinamismo econômico.

Cumpre ao Estado nacional, conclui o bloco histórico do livro, a tarefa de elaborar e executar um novo projeto nacional de desenvolvimento, que considere com destaque o enfrentamento às desigualdades regionais.

É tema do quarto e último capítulo – quinta aula – do Brasil no capitalismo do século 21.

Assista às aulas ministradas, disponíveis pela Unicamp no Youtube.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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