A gaúcha Rede Estação Democracia tem trazido debates e entrevistas sobre o quadro político e econômico nacional. Após recentemente tratar do deficit zero com Paulo Kliass, nesta última edição de 2023 professores universitários conversaram sobre o governo Lula, sob a ótica da economia.
Ao lado do moderador Carlos Paiva, da RED, estiveram o paraense Giliad Silva, João Furtado, da USP e Pedro Paulo Zahluth, da Unicamp.
Em cenário de defesa da democracia ante a intentona fascista da primeira semana de governo, teto móvel de gastos e anúncio de nova política industrial, Giliad lembrou que a exportação de comódites ainda é o setor mais atrativo ao capital privado, junto com a especulação financeira, assegurando que é preciso aumentar a formação bruta de capital fixo e orientar a reforma tributária para fornecer mais recursos à produção.


Para Zahluth, a economia brasileira está em desaceleração, com avanço significativo apenas do setor financeiro, de baixo efeito multiplicador sobre o PIB. As limitações fiscais autoimpostas pelo governo também apontam para baixo crescimento econômico nos próximos anos.
João Furtado mostrou preocupação com o destaque excessivo à melhora da demanda que, embora urgente, não pode se sobrepor a mais FBCF, como a história de sucesso do Brasil da era Vargas já ensinou. É preciso melhorar a produtividade do trabalho e cuidar da transição energética, com investimentos em inovação, além de tributar as comódites, isentas na exportação pela Lei Kandir desde 1997.
Completando o segundo bloco, Pedro Paulo quantificou a perda de empregos industriais, melhor remunerados, a partir da financeirização das relações de trabalho no Brasil.
Já Giliad lembrou o potencial do bioma amazônico, cuja exploração tem que levar em conta a população regional e a sustentabilidade ambiental.

Nas considerações finais, os professores concordaram não ser o governo Lula neoliberal, mas sua conduta na economia tem se servido em demasia dos princípios dessa corrente de pensamento, talvez em função das pressões do Congresso, da banca e de outras forças conservadoras que integram a ampla frente governante. Tais medidas podem, inclusive, colocar em risco o sucesso do governo e a continuidade da reconstrução e desenvolvimento nacional.
A questão cambial ganha relevância no debate, principalmente ante a preocupante volatilidade nas trocas de moeda e produtos em uma economia dependente, que perde, inclusive, mercado produtor para a China, como foi o caso dos calçados no Rio Grande do Sul.

Para 2024, eles esperam avanços no programa Brasil mais produtivo; a participação dos trabalhadores nos programas de criação de novos e melhores empregos; e uma revisão do regime fiscal, de modo a superar a limitação à ação do Estado em favor do desenvolvimento do Brasil.

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