
Conclusão do livro O dinheiro, sua história e a acumulação financeira, de Iso Sendacz.
A obra acompanha o curso homônimo, ministrado em 2020 na Escola Nacional de Formação da CTB.
Na famosa série cinematográfica Jornada nas Estrelas, de Gene Rodenberry, Jean-Luc Picard e seus comandados na Enterprise, viventes no século 24, retornam no tempo para ajudar o engenheiro descobridor da velocidade de dobra a fazer o seu trabalho revolucionário, com o habitual sucesso que a ficção permite. Não só para evitar que os inimigos impedissem o feito, mas também, silogismos a parte, facilitar a elaboração da própria fórmula, aprendida nas universidades do futuro.

Em dado momento, para convencer a engenheira assistente de que eram do futuro, o capitão a teleporta para a nave, estacionada em “modo invisível” sobre o globo terrestre. Surpresa com o tamanho do bólido espacial, já que mal tinham material para uma cápsula de 4 lugares, é esclarecida que as viagens interplanetárias de longa distância tinham permitido a formação de uma federação de planetas, estando disponíveis variados e abundantes recursos naturais e de transformação. Ainda estupefata, ela pergunta de onde saiu o tanto de dinheiro necessário para a construção da Enterprise e o pagamento da sua tripulação, sendo respondida por Picard com o ponto de interesse desta conclusão:
“No século 24 não há dinheiro.”
Se à Humanidade o futuro reserva as viagens intergalácticas em velocidade de dobra, não é possível antever com certeza, nem predeterminar quando isso será realidade, é um objetivo a perseguir. A desmitificação do dinheiro, no entanto, e mesmo a sua supressão, é um cenário mais provável, ainda que a ocorrência seja de prazo incerto e não sabido e dependa, em suma, do aporte coletivo à abundância de bens de uso e da apropriação individual consciente, na medida da necessidade.
O que há hoje segurança de se afirmar é o fato de que às três funções clássicas do equivalente universal das mercadorias – unidade de conta, reserva de valor e meio de troca – pode-se acrescentar uma quarta, referente ao uso do dinheiro como instrumento de acumulação financeira a partir dele próprio.
Uma realidade que predomina no desenvolvimento capitalista dos últimos cinquenta anos e que aponta à crescente concentração de riqueza monetária, equivalente de todo o restante das mercadorias. Ante a “revelação” do fim do dinheiro, a cena das Jornadas se conclui com a personagem do século 21 perguntando ao capitão da Enterprise da razão de trabalhar sem salário ou perspectiva de lucro. A resposta tem grande valor para os dias de hoje: “para fazer mais e melhor”.
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