É recorrente no Brasil olhar a grama do vizinho. Sergio Fausto e a Fundação FHC tem trazido, ao menos duas vezes ao ano, avaliações sobre como andam as coisas na Argentina. Desta feita, o Senador Martin Lousteau foi o convidado.
Lousteau recordou o avanço de seu país nos tempos de Peron, quando o interesse dos trabalhadores pesava no governo. Desde os anos 1970, no entanto, duas depressões econômicas e outras crises que intermearam os breves períodos de modesto crescimento levaram a pobreza na Argentina de 5% a 45% da população.
Ele mesmo trouxe alguns dados: em 50 anos, a Argentina cresceu sua renda percapita apenas 11%, enquanto o Brasil mais que a duplicou e cada irlandês ficou três e meia vezes mais rico, ambos número modestos frente à Coreia, que multiplicou sua produção por 15 vezes.
Com uma história politica quase bipartidária, tornou-se comum atribuir os problemas ao antecessor, com nova má ação que culminava em mais decadência e nova atribuição de culpas. O Senador mostrou-se convencido da necessidade de um diagnóstico sério nos próximos dois anos, para que o país possa encontrar caminhos sobre bases reais e voltar a crescer.
A essência das sucessivas disputas gira sobre a prioridade entre o equilíbrio externo e o equilíbrio político-social. Mais Estado, mais tributos e câmbio baixo disputam com a tese liberal oposta. Embora a seguridade social seja ampla e traga certa tranquilidade social, informou, hoje os gastos com saúde e educação são 40% do que foram outrora.
Lembro das minhas primeiras visitas ao país portenho, quando a nenhum argentino faltava carne e vinho em todas as refeições e aquecimento em todas as estações.
Assim, deixei uma pergunta não incluída no debate, relativa à semelhança entre a decadência da economia de lá e de cá: que papel joga a dependência externa, adquirida em um período menor que uma vida?

Martin Lousteau é Senador da República Argentina e foi presidente do Banco da Província de Buenos Aires, Ministro de Estado e Embaixador nos EUA.