
Nascido na roça cearense, Miguel Arraes encarnou como muitos o dito de, o nordestino, ser antes de tudo um forte. Foi deputado estadual, deputado federal por 18 anos, prefeito de Recife e por três vezes governador de Pernambuco. A profunda identidade com o seu povo pôde ser aferida nas suas palavras de quando, em 1963, assumia do Governo do Estado pela primeira vez.
O texto, 7º selecionado ao Pensamento Nacional-desenvolvimentista, inicia de modo próprio também aos dias de hoje:
A revolução brasileira, de que tanto se fala, é o projeto nacional que dá sentido e confere dignidade à condição de político, de militar, de administrador, de governante, de intelectual, de cidadão no Brasil dos nossos dias. A preocupação de todos os que estão empenhados na execução desse projeto é reunir e unir todas as forças para a rápida superação do atraso e do subdesenvolvimento em que nos encontramos.
Sua filosofia revolucionária é de um “humanismo autenticamente brasileiro, que nasça do sofrimento de ver, de sentir, de viver intensamente o drama de querer ser, e de ser, brasileiro neste tempo”.
Diz mais:
Somos um povo que toma consciência de suas necessidades e de suas possibilidades, de seus defeitos e de suas qualidades e, por isso mesmo, já não aceita ser tutelado nem governado por estranhos; somos um povo que descobriu que pode, ele mesmo, explorar suas riquezas e com isso ser próspero e até rico.
O Nordeste de Arraes, com seus 23 milhões de habitantes, era uma das áreas no mundo em que imperava o atraso, a miséria e a fome; “uma espécie de câncer que o mundo inteiro conhece e tem medo que se alastre”. Mas com uma história de prosperidade e riqueza dos tempos da cana de açúcar, “graças ao emprego de uma tecnologia altamente desenvolvida”. No entanto, “o trabalhador foi aos poucos se aviltando até chegar às condições de extrema miséria em que se encontra”.
Muito antes da Constituição cidadã que ajudou a escrever, Arraes já verificava a existência de real de melhores condições de vida em outras paragens, o que lhe estimulava a prover um “conjunto complexo de transformações econômicas, políticas e sociais a que estamos chamando de revolução brasileira”, com o fito de reduzir as desigualdades regionais e sociais que marcavam e ainda marcam a paisagem brasileira.
Em linha com o pensamento isebiano de Álvaro Vieira Pinto, o governador projetava:
É necessário, para o desenvolvimento do Nordeste, criar um sistema que modifique sua posição de simples fornecedor de produtos primários às áreas mais adiantadas e industrializadas do país. E que uma das bases desse sistema econômico é a industrialização, cujo mito cresce dia a dia, dada a inevitável correlação entre desenvolvimento industrial e padrão de vida.
No texto extraído de Palavra de Arraes, projetos concretos de avanço na reforma agrária e na substituição de mocambos por casas de alvenaria, entre tantos, compatibilizam o discurso de campanha com a ação concreta do Estado em favor do povo pernambucano. Que, segundo ele, não é objeto do governo, mas ator principal do processo de transformação da vida regional e nacional.
Assim concluiu o jovem advogado:
Acredito ter tudo o que um homem precisa ter para o trabalho, e que outra coisa não é senão o que foi dito pelo poeta: Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.

Conduzido pelo voto popular ao Campo das Princesas em 1963, Miguel Arraes foi cassado e perseguido pelas forças ditatoriais no ano seguinte. De volta ao Brasil, governou Pernambuco ainda por duas vezes nos anos 1990 e concluiu a sua vida em pleno mandato de deputado federal.
Um comentário em “O caminho para o Nordeste e para o Brasil”