Os repetidos e severos ataques ao fundamento republicano do trabalho não causa senão, no mínimo, consternação em todo o território nacional. Em Santos, não é diferente.
Nesta semana, integramo-nos nas movimentações dos aposentados brasileiros, condição hegemônica dos moradores da “ilha encantada” e bastante relevante entre os seus vizinhos de Baixada.
Na quinta-feira, dia 13 de fevereiro de 2020, foi a vez de o Sindicato dos Empregados em Edifícios, Condomínios e Administradoras de Imóveis, de base regional, receber a turma da melhor idade para debater sobre a manutenção do poder de compra das aposentadorias.
Sob a coordenação de Uriel Villasboas, o veterano presidente dos metalúrgicos, o encontro recebeu o presidente da casa, José Maria Félix, Miro Machado, dos operários portuários e dezenas de lideranças experientes e combativas da classe operária da cidade vermelha e região.
Em pauta, a impossibilidade de se viver condignamente com o salário mínimo vigente e a necessidade de reajuste real das aposentadorias, sempre em janeiro, além da demanda por vale-remédio. Uma carta será redigida com as reivindicações e discutida nacionalmente com as representações trabalhistas de todo o país.

No dia seguinte, 14 de fevereiro, a defesa do Brasil foi nas ruas.
Após ato de solidariedade ao petroleiros em greve contra a entrega da nossa empresa maior, trabalhadores do serviço público e do setor privado foram à porta do INSS protestar pela Previdência Social Pública.
Não bastassem as dificuldades de as pessoas buscarem os seus benefícios junto ao órgão público, que sofre com a falta de gente, vem o governo propor a convocação de inexperientes militares para fazer a fila andar. Concurso público e, provisoriamente, convocação de aposentados do próprio INSS trariam mais agilidade no cumprimento do dever do Estado para com o cidadão.
Sobre os eventos, cabem duas observações:
a) quem já completou a sua jornada laboral plantou as condições de produção para os filhos e netos que o sucedem no mercado de trabalho. Mais do que justo esse contingente de brasileiros absorver uma parte da renda nacional, que tem sido cada vez menor. Neste século, enquanto o PIB cresceu, em termos nominais, cerca de cinco vezes, a reposição do valor dos proventos de aposentadoria, limitada à inflação, foi de três vezes apenas. Faltam 75% de aumento, mas a modesta pedida para este ano será de 10%, para recomeçar a recomposição;
b) a redução do quinhão que cabe aos aposentados, muitos deles ainda contribuintes da Previdência, da mesma forma que a juventude e sua diminuta educação pública, os trabalhadores com condições cada vez menores de prover o seu lar e os empresários nacionais com renda cada vez menor de seus negócios, tem um destino preferencial, já que o PIB tem crescido ao longo do tempo. As desonerações fiscais, significativas especialmente para as empresas monopolistas de grande porte cada vez menos verde-e-amarelas, e os desembolso de recursos públicos a um número cada vez menor de famílias e seus intermediários financeiros, a título de juros da dívida, não deixam dúvida de qual seja ele.
Um comentário em “Santos e o valor do trabalho”