
Embora Karl Marx (1818-83) tenha vivido e feito suas observações sobre o funcionamento das relações capitalistas de produção antes mesmo do uso generalizado da eletricidade e da tecnologia de processamento e transmissão de dados digitais, já antevia no Livro III de O Capital que “o capital financeiro, ao se autonomizar, transforma a riqueza social em algo fictício, criando ciclos de especulação e destruição.”
O engenheiro Miguel Manso, pesquisador da Fundação Maurício Grabois, procura demonstrar em detalhado artigo como a proponderância atual do capital fictício encontra paralelo nos estudos do filósofo alemão.
Marx define o capital fictício como formas de capital que, embora representem direitos sobre riqueza futura, não possuem valor intrínseco e não estão diretamente ligados à produção de bens e serviços. Esse conceito está relacionado a títulos, ações, títulos da dívida pública e outros instrumentos financeiros que circulam no mercado, mas que não correspondem diretamente a ativos reais ou à produção material.
Manso alerta que “quando o sistema financeiro não consegue realizar o capital fictício em termos de valor real, surgem crises de liquidez. Bancos, empresas e investidores enfrentam dificuldades em honrar suas dívidas, pagar obrigações ou manter operações básicas. Essas crises também envolvem a escassez de capital produtivo (máquinas, infraestrutura) e meios de pagamento reais (dinheiro com lastro), intensificando o colapso”.
Após resgatar em Marx que “a aceleração dos ciclos de circulação é uma necessidade intrínseca do capitalismo, pois permite a maximização da mais-valia” e “a acumulação de capital fictício é uma expressão das contradições do capital, que não pode se expandir indefinidamente sem base material” (Marx in O Capital, Livro III, capítulo 27) , o autor resume pela insolubilidade, nos marcos do capitalismo, das contradições que lhe são naturais, “apontando para seus limites históricos”.

Mais elementos sobre o assunto podem ser encontrados em A Acumulação Primitiva de Capital, de Marx, e no nosso livro O Dinheiro, Sua História e a Acumulação Financeira.

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