O desenvolvimento soberano do Brasil e a luta antiimperialista

O que tem a ver o desenvolvimento soberano no Brasil com a luta anti-imperialista?

Luis Carlos Paes de Castro

Creio que o centro das preocupações dos segmentos mais progressistas da sociedade brasileira deve estar em sintonia com os desafios para a realização do projeto de união e reconstrução nacional proposto pelo governo Lula.

Este projeto tem entre seus principais objetivos a retomada da industrialização do país, neste primeiro momento, voltada para seis segmentos específicos: o complexo da saúde, a agroindústria, a infraestrutura urbana, a tecnologia da informação, a bioeconomia e a defesa.

A partir deste ano e até 2026, estão previstos investimentos da ordem de R$300 BI, a maior parte através do BNDES, da Finep e Embrapa.

O problema é que enquanto a indústria terá R$ 300 bilhões para investimentos em três anos, o rentismo está levando mais de R$ 700 BI por ano, com os altos juros pagos pela rolagem da dívida pública. Daí a luta de Lula, do setor industrial mais comprometido com o País e da grande maioria do povo trabalhador contra Roberto Campos Neto e o Banco Central dependente do “mercado” financeiro.

Este não é o único obstáculo a ser removido, destaco, entre outros, a necessidade de uma reforma tributária que alivie a produção e o consumo e tribute mais a renda, a propriedade e a especulação financeira.

Necessaria também uma outra compreensão sobre o que é responsabilidade fiscal. O Estado Nacional pode sim investir/gastar mais do que arrecada para se desenvolver e melhorar o nivel de vida de seu povo. Teto de Gastos e Arcabouço Fiscal são falácias já superadas pela Teoria Monetária Moderna.

Estas são lutas muito duras. Por enquanto, vencidas pelos monopólios financeiros, pela agiotagem internacional, pelos sabotadores incrustados no Banco Central e pela grande mídia entreguista, rede Globo à frente.

Este projeto nacional, desde sempre, sofreu a oposição do Império estadunidense e seus vassalos europeus. Getúlio, Goulart, Lula e Dilma que o digam.

O enfrentamento a esse poder antidesenvolvimento nacional exige a construção de amplas alianças políticas internas e externas, estas últimas com o chamado “sul global”, tendo à frente China, Rússia, Índia, Irã, a África insubmissa, a América Latina rebelde e todos aqueles que não se submetam integralmente à ordem imperialista.

Não vai ser com Temer, Bolsonaro, Milei, Netanyahu, Zelensky, Trump, Biden, Kamala ou a extrema-direita venezuelana (Pedro Carmona em 2002, Juan Guaidó em 2019 ou Maria Corina/Edmundo González em 2024) que conseguiremos avançar na construção deste projeto nacional soberano e de um mundo menos desigual, mais pacífico e mais plural, ou seja, um mundo com nações que não imponham pela força os seus modelos de sociedade aos demais.

É triste e preocupante ver pessoas com certo grau de informação, alguns inclusive com passagem no campo de esquerda e progressista, se deixarem influenciar pelo canto de sereia do Império, pela velha e desgastada cantilena do anticomunismo, pela falsa defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos por aqueles que, no passado e nos dias atuais, cometeram e cometem os maiores crimes contra a democracia, a liberdade e os direitos humanos.

Não precisamos ir longe, basta ver o que fizeram no Brasil de Dilma e Lula. O que fizeram no Iraque, na Líbia e no Afeganistão. O que continuam fazendo na África e na América Latina, sem falar da tentativa de extermínio do povo palestino.

É salutar abrir os olhos e a mente para uma realidade complexa e um mundo em transição, incompatível com uma superpotencia arrogante que não aceita perder a condição de xerife do planeta.

O cearense Luís Carlos Paes de Castro é engenheiro, Especialista aposentado do Banco Central e presidente do PCdoB no seu estado natal.

Dele, também publicamos O Direito à Inclusão Social das Pessoas com Deficiência, O Presidente Incapaz, A China e seu processo de desenvolvimento, O BRICS+ e a consolidação de um mundo multipolar e Democratas e Republicanos: duas faces da mesma moeda.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo e da Engenharia pela Democracia, conselheiro da Casa do Povo, Sinal, CNTU e Aguaviva, membro do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

4 comentários em “O desenvolvimento soberano do Brasil e a luta antiimperialista

Deixe um comentário