No momento em que discutimos nossos caminhos para o desenvolvimento e a Nova Indústria Brasil, mostra-se oportuno o ciclo de debates da Fundação Maurício Grabois sobre a Reindustrialização do Brasil e a estratégia de desenvolvimento sustentável e soberano, ocorrido nos dias 5 e 6 de Junho de 2024.
Na primeira rodada, participaram a Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação Luciana Santos, o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, Fabrício Silveira, economista da Confederação Nacional da Indústria, o engenheiro Pedro Celestino, ex-presidente do Clube de Engenharia, e Alexandre Navarro, da Fundação João Mangabeira, sob a coordenação de Walter Sorrentino, presidente da FMG.
Luciana abriu a mesa sobre inovação, tecnologia, soberania e sustentabilidade mostrando o esforço do governo federal em elevar o patamar de desenvolvimento do Brasil, em um mundo que cresce modestos 3% e o domínio tecnológico é alvo de disputa internacional.
A pandemia e a guerra na Ucrânia mostraram como é nefasta a dependência, explicou. Faltaram no Brasil de respiradores a máscaras, o que exige uma produção soberana, ancorada em um projeto nacional de desenvolvimento. Para isso o Estado tem papel fundamental, orientando significativo investimento em ciência e tecnologia, como o fizeram e fazem os países que mais rapidamente avançaram no mundo. Tarefa difícil, mas plenamente factível, concluiu a engenheira.
O professor da Unicamp mostrou que o Brasil já foi o mais industrializado dos países em desenvolvimento, mas regrediu à condição de exportador de primários. Em 1980, um terço do PIB vinha da indústria, 28% na transformação, mais do que a Coreia, ilustrou.
A combinação de juros elevados e câmbio valorizado levou à desindustrialização do país, enquanto a China avançava. A retomada, explicou o economista, deve ser feita em bases e com atores novos, articulando a participação dos setores público e privado, bem como considerando a dimensão tecnológica.
O representante da indústria propôs aproveitar as vantagens comparativas do Brasil por meio de políticas públicas, que ajudam a resolver os problemas sociais. Para Fabrício, o estado precisa ser investidor, não prestador de última instância.
Além de adensar as cadeias produtivas industriais, cujo salário médio de R$ 7 mil é o triplo da economia em geral, é preciso educar as pessoas, reduzir os juros e aumentar a oferta de crédito, complementou.
Celestino relembrou a máxima da industrialização brasileira: fabricar o fabricante!
Para aproveitar a extensão territoral do Brasil, sua riqueza natural e a população, cabe uma política industrial, em que aço e energia são a base.
O engenheiro resgatou o papel já cumprido pela Petrobras e a Eletrobrás, cabeças de uma cadeia com milhares de empresas envolvidas, mas hoje sob desmonte, em favor da financeirização da economia. Mais, fornecedoras de energia barata, tornam-se pivôs do processo de desenvolvimento nacional. Para isso se impõe a revisão das concessões dos governos recentes.
Navarro centrou sua contribuição na necessidade de melhor coordenação nas ações do Poder público. No entanto, registram-se avanços: após longo período de financeirização, em doze meses a indústria cresceu 8,4% e marcou 25% em bens de capital.
A produção nacional incrementa o valor das matérias primas brasileiras em larga razão, além de evitar relações dependentes no comércio externo. Ele citou a matriz energética brasileira, majoritariamente limpa, mas que demanda turbogeradores não fabricados no país.
Em conclusão, propôs a primazia das compras nacionais ao fabricantes no Brasil, como faz hoje os EUA com suas cotas de conteúdo local, e a compra, pelo Banco Central, de títulos públicos voltados aos investimentos previstos no Plano Plirianual brasileiro.
A segunda mesa apresentou as considerações dos trabalhadores para a retomada da indústria.
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