O diretor da Hora do Povo, Carlos Lopes, também psiquiatra e vice-presidente do PCdoB, compareceu à sede da UMES-SP para palestrar, a convite do Congresso Nacional Afro-brasileiro, sobre seu denso artigo Observações sobre o racismo. O evento precedeu o Dia da Consciência Negra em 2023.
Apresentado pelo presidente do CNAB, Alfredo Oliveira, e secundado à mesa pelos diretores Ubiraci Dantas de Oliveira, Irapuan Ramos e Cleide Almeida e o presidente da entidade anfritiã, Lucca Gidra, Lopes principiou relembrando Eduardo de Oliveira, fundador do Congresso e autor do Hino à Negritude, entoado por todos os presentes.
Lopes principiou estabelecendo que racismo e escravidão são coisas diferentes. Muitas sociedades, não só a brasileira e desde as antigas Grécia e Roma, foram construídas com base em relações escravistas, mas o racismo é discriminação propria das relações capitalistas, agravado pela condição dependente aos centros imperialistas de muitas nações modernas.
A Abolição alcançou ainda 700 mil escravos nos tempos da industrialização tardia brasileira. Mas a seu lado já havia uma plêiade de negros ilustres no Brasil: Teodoro Sampaio, um dos maiores pensadores do país, filho e irmão de escravos, que lhes comprou a alforria; Juliano Moreira, pioneiro da psiquiatria e introdutor da psicanálise, defensor no plano internacional de a doença mental não ser produto da condição colonial de certas terra; Montezuma, senador, ministro do império e Conde de Jequitinhonha; e o jovem Castro Alves, poeta dos escravos.
Talvez nenhum deles maior que Luiz Gama, nascido livre mas vendido ao tráfico negreiro pelo próprio pai, que se tornou advogado e um dos líderes abolicionistas e repúblicanos mais importantes do Brasil.
Aos negros, afirmou Lopes, compete o orgulho de ter construído a Pátria, com destaque subsequente na música, futebol e literatura brasileiros. “O que seria de Jorge Amado sem os negros?”, perguntou.
O racismo, hoje, é problema do imperialismo, prosseguiu. Evidentemente a exploração do trabalho tem agravante na cor da pele, mas é uma questão de classe, no essencial. Não parece carecer esperar a mudança estrutural das relações de produção para o enfrentamento pelos negros, ao lado de brasileiros com outras características físicas, da dependência externa, dando curso à revolução brasileira.
Libertar o Brasil, objetivo de todo o povo brasileiro, a raça cósmica, como se referia Andrada Serpa à raça do futuro. E a questão decisiva para os negros no Brasil é pertencer a esse povo.

O texto-base da apresentação de Carlos Lopes pode ser conhecido na Hora do Povo.


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