O fascismo e a psicologia de massas segundo Freud

Sigmund Freud

Vera Lucia Glasser Dutra

Freud fez uma analise sobre o fenômeno do fascismo no texto Psicologia das Massas e Análise do Ego ( 1923). Explica aí o porquê do fascismo se alastrar tão facilmente entre as massas pelo fenômeno da identificação.

Os adeptos do fascismo aderem a uma liderança autoritaria e se submetem voluntariamente a ela, porque o líder fascista passa para eles a imagem de ser forte e capaz de destruir adversários e quem discorda dele. A liderança fascista quer anular divergências de opinião para se tornar única e se impor como vencedora. Seus seguidores quando se aliam a esse discurso desejam vencer os seus sentimentos humanos de fraqueza e de não terem a importancia que gostariam de ter diante da vida e da sociedade. Quando as massas aderem a um líder com discurso de sou “forte”, elas se sentem fazendo parte de um grupo poderoso, que consegue se impor a todos, ainda que seja pela força bruta e através da violência. As massas se sentem magicamente como “superiores”. É uma estratégia de poder muito daninha e perigosa.

Nesse sentido, quem vota em Bolsonaro não está votando nele porque ele é sincero ou mentiroso, honesto ou desonesto, porque ele acertou ou errou. Tudo isso é secundario para eles. Não é isso o que move as massas no fascismo. Os adeptos do fascismo não deixarão de votar no lider fascista por causa de seus evidentes erros ou barbaridades cometidas. Votam nele pela necessidade de se sentirem unidos com ele, ainda que sob estado de cegueira e fanatismo, para vencerem seus próprios sentimentos humanos de fragilidade, impotência e medo diante das incertezas da vida. Daí a insistência do discurso de Bolsonaro com idiotices do tipo “eu sou imbrochável” etc.

Os seguidores de uma liderança fascista seguem o lider principalmente pelo fenômeno que Freud chamou de IDENTIFICAÇÃO dos seus egos com o ego e o discurso de força de seu líder. Por isso acatam bem e até gostam de governos autoritários, de ditaduras, etc. Querem se impor à sociedade como um grupo superior que tem mais poder e manter esse sentimento de poder pessoal que advém dessa IDENTIFICAÇÃO com o lider. Mas isso na verdade só visa vencer sentimentos de inferioridade que possuem como individuos. Apelam e desejam uma sociedade com opinião unificada para se sentirem “protegidos” de sua própria invisibilidade e insignificância e para não terem que conviver e se confrontar com opiniões divergentes que podem destruir a ilusão de força e potencia deles. O discurso fascista exacerba a falsa ideia de um ser humano não vulnerável, não frágil e do ser humano não ser falho. Falhos são os divergentes. Querem negar que todos sofremos de impotência diante de certos obstáculos da vida….

Bolsonaristas não debatem com forças divergentes, ameaçam com banho de sangue etc.. Preferem um estado forte com líder autoritario pra fugirem da dura realidade de que todos os humanos são limitados. Não suportam a incompletude e as limitações humanas. Ou seja, não se dão conta que ser forte é assumir a propria fragilidade. Freud analisa bem o fenômeno do fascismo nesse artigo.

Deveríamos expor mais as teses de Freud para mostrar a fraqueza do sujeito que vota em Bolsonaro ou em qualquer fascista. A fraqueza de quem precisa se iludir acreditando que com isso escapara da própia impotência.. Devemos desconstruir essas ilusões e apontar como seres humanos são de fato: todos frágeis e desamparados e que não há seres superiores como eles gostariam de ser…. Fugir da realidade não é boa alternativa, muito menos ao preço de se submeter a um lider para ser seu escravo.

Importante sabermos que quanto mais frágil o ser humano se sente, mais ele está suscetível de cair na armadilha de tentar escapulir dessa fragilidade tentando se revestir de falsa aparência de força e arrogância. Quanto maior o sentimento de inferioridade mais fácil querer camuflar esses sentimentos com discursos de força e de superioridade para se consolar e se auto iludir. Arrogância é sinal de catástrofe interna, como ja dizia Bion, um grande psicanalista ingles. A arrogância, segundo Bion, é para disfarçar a falência psicológica. Querer sair desse sentimento de inferioridade e fragilidade às custas de destruir o principal valor da sociedade ocidental: democracia com liberdade e direitos iguais para todos é uma estratégia fadada a acentuar a decadência do Ocidente..

No momento em que assistimos o fortalecimento do fascismo nos países do Ocidente, não podemos nos calar, nem nos deixar iludir por esse discurso. Ele é um retrocesso civilizatório. Uma ideologia para manipular sentimentos de inferioridade das massas, vendendo um ‘peixe podre”, uma ideia de falsa força e falsa superioridade. Temos obrigação ética de esclarecer fenômeno da adesão das massas ao fascismo…

Freud que o diga….

Vera Lucia Glasser Dutra é mestre em psicologia e doutora em teoria psicanalítica pela UFRJ. Texto originalmente disponível no Facebook.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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