
Um canal a cabo apresentou o primeiro capítulo da série chilena Neruda, mas por enquanto parou por aí. Nos trouxe à lembrança duas das três das casas do poeta e Senador do país que se estende entre os Andes e o Pacífico, que visitamos como museus em nossa recente estada no Chile. Na de Valparaíso, ele mesmo contava em áudio: “o mar era tão grande, que tive que coloca-lo na janela”.
Pablo Neruda, Senador e Poeta (1963)
Hoje o Chile se defronta outra vez com o fascismo que lhe tirou outrora a liberdade. Seu maior poeta escrevia em Confesso que Vivi:
“A vida política, porém, veio como um trovão desviar-me dos meus trabalhos. Regressei uma vez mais à multidão.
A multidão humana foi a maior lição da minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o receio do tímido; mas, uma vez no seu seio, sinto-me transfigurado. Sou parte da essencial maioria, sou mais uma folha da grande árvore humana.
Solidão e multidão continuarão a ser deveres elementares do poeta do nosso tempo. Na solidão, a minha vida enriqueceu-se com a batalha da ondulação no litoral chileno. Intrigaram-me e apaixonaram-me as águas combatentes e os penhascos combatidos, a multiplicação da vida oceânica, a impecável formação dos «pássaros errantes», o esplendor da espuma marítima.
Mas aprendi muito mais com a grande maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo. Pode esta mensagem não ser possível a todos os poetas, mas quem a tenha sentido guardá-la-á no coração, desenvolvendo-a na sua obra.
É memorável e desvanecedor para o poeta ter encarnado para muitos homens, durante um minuto, a esperança.”

Se a vida física do Nobel de Literatura Pablo Neruda completou-se poucos dias depois do golpe fascista que assombrou o Chile e o mundo em 1973, seus lindos poemas de amor seguem vivo em nossas mentes e corações.