Viagem à Polônia (V)

José Aron Sendacz, julho e agosto de 1954

Chegamos a Gdansk, antiga Danzig, sexta-feira às 8 hs da manhã e fomos em seguida visitar Olivos.

De Olivos fomos para Copot visitar um Lar Infantil. O orfanato que visitamos é na verdade um lar para órfãos de guerra, mas na época de férias as crianças que lá vivem são enviadas para colônias e naquele local organiza-se colônia para outras crianças.

Fomos recebidos com canções e flores. Uma garotinha de uns 13 anos nos saudou e as crianças apresentaram um espetáculo de canto e dança. Após o espetáculo fomos convidados pelas crianças a dançar com elas. Não pudemos recusar e dançamos com elas. Eram danças coletivas e, dançando nos conduziram ao salão de refeições onde almoçamos com elas. Foi uma satisfação comer e conversar com essas crianças.

A maioria das crianças eram polonesas, mas também lá se encontravam crianças da França e Bélgica.

Tomando conhecimento de que eu era brasileiro, elas se interessaram especialmente por mim. Queriam saber sobre o Brasil, se moro longe do Amazonas; se é verdade que ainda existem no Brasil lugares selvagens onde o homem ainda não pisou; se por aqui há muitos negros e qual é nossa atitude para com os mesmos; se por aqui são publicadas muitas revistas infantis e como são; se aqui as crianças também vão para colônias de férias no verão…

Gdansk hoje

Às 3 da tarde fomos recepcionados pelo presidente do Conselho Municipal de Gdansk.

Ao redor de mesas cobertas de flores, vinho e petiscos, fomos saudados e conversamos por mais de uma hora. Ele nos transmitiu o plano da reconstrução de Gdansk.

O responsável pela realização desse plano de 6 anos, um jovem judeu chamado Feder, sentou-se a meu lado e notando que eu era o único judeu da delegação, quis saber sobre a vida judaica no Brasil. Conversamos longamente.

Visitamos a cidade. Aqui também, como em Varsóvia, as ruas tradicionais estão sendo reconstruídas como eram originalmente, com as fachadas pintadas e esculturas nas entradas.

Visitamos o porto e fizemos um passeio pelo Báltico.

No jantar, estiveram novamente conosco o presidente e outros membros do Conselho Municipal.

Na manhã seguinte viajamos para Kalice, uma aldeia a 80 km de Gdansk e lá visitamos uma cooperativa rural. Almoçamos com os camponeses. O presidente da cooperativa, um camponês de várias gerações, é também deputado no Parlamento. Às 3 hs voltamos para Copot e visitamos uma exposição, passeamos pelo Mala e em seguida viajamos para Gdynia onde visitamos o porto, vimos o aniquilamento feito pelos nazistas e também vimos o que lá foi reconstruído.

“Após a expulsão dos nazistas – nos conta um pescador da região – foi necessário que durante algumas semanas os sapadores soviéticos, procurassem e eliminassem as minas deixadas nas águas do Báltico, pelos “boches”. Durante todo o dia se ouviram as explosões contínuas.”

Porto e estaleiro de Gdynia

Voltamos para Gdansk e na mesma noite viajamos para Stetin.

Stetin é uma cidade antiga, que fica num estreito. É uma cidade portuária muito importante. Durante muitos e muitos anos, esta cidade foi habitada por conquistadores prussianos, que com o auxílio dos vencedores da primeira guerra mundial, deixaram apenas um estreito corredor de 17 km de orla marítima, recompensando os senhores poloneses com grandes extensões de terra no oriente, que haviam sido tomadas dos ucranianos e da Rússia Branca.

Hoje, a Polônia possui 450 km de orla marítima e três grandes portos: Gdansk (a antiga Danzig), Gdynia e Stetin.

Quando chegamos à estação ferroviária, o Dr. Schechter – presidente e vários outros membros da Câmara Municipal nos receberam com flores e discursos. Tomamos o café da manhã com eles e de lá fomos a Podgrabje, uma cidadezinha distante 93 km de Stetin. E lá vi uma das coisas mais belas que tive a oportunidade de ver em minha viagem.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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