São Paulo, 470, com Lídia Correa

Se é verdade que a história do Brasil se escreve nas ruas de São Paulo, Lídia Correa é uma das suas mais ilustres representantes. Por ocasião do aniversário da “locomotiva do Brasil”, ela concedeu entrevista exclusiva ao Brasil e o mundo.

BM – A redemocratização do Brasil passou pelas ruas de São Paulo. Conte-nos as suas memórias dessas lutas do nosso povo.

Lídia: Foi uma honra, uma satisfação e uma grande experiência, participar da luta e da Campanha das Diretas Já!, um dos maiores movimentos e mobilização da nossa história. Movimento que empolgou e mobilizou o Brasil. E foi possível, porque nosso país soube construir e constituir uma ampla frente que teve à testa Ulisses Guimaraes. Franco Montoro, Quércia, Fernando Henrique, Teotônio Vilela, partidos políticos, artistas, intelectuais, esportistas como Osmar Santos, sindicatos. Depois de enfrentar longos anos da ditadura e construindo caminhos e movimentos para seu enfrentamento, coroamos o processo com união, povo na rua e música. Atos históricos da Praça da Sé e do Vale do Anhangabaú. Uma alegria ver a mobilização e a força do nosso povo. Participamos de todo o processo, das articulações, das mobilizações até a votação da emenda Dante de Oliveira. Muita gente acompanhando a votação na Praça da Sé e era impossível conter as lágrimas. E este vigoroso movimento permitiu a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral, que possibilitou inaugurar uma nova página da redemocratização.

Depois se seguiu a Constituição Cidadã, liderada por Ulisses Guimarães e todos os democratas. Constituição que recuperou a nossa soberania, direitos dos trabalhadores, democracia e muitos avanços.

Participamos, desde jovens, eu e meu companheiro, o guerreiro Lindolfo Santos, no movimento político, comunitário, sindical, de mulheres. Muitas lutas e campanhas. Do Movimento Contra a Carestia, pela Constituinte, Pela Anistia, das Diretas Já, de greves por direitos, de lutas sociais e comunitárias, como as Sociedades Amigos de Bairro e Associações de Moradores; depois fundamos a CONAM-Confederação Nacional das Associações de Moradores, o Canta Brasil, show que foi uma marco na luta pela redemocratização, como da Legalização dos Loteamentos Clandestinos, que era um grave problema na década de 80. Movimento de creches, melhorias nos transportes, direitos das mulheres, quando fundamos a Federação das Mulheres Paulistas e posteriormente, a CMB – Confederação das Mulheres do Brasil. Em 1988, lideramos processo de mutirões na conquista de melhorias nos bairros, onde os moradores entravam com a mão-de-obra na execução dos serviços, como os Mutirões de guias e sarjetas. Implantação do Programa do Leite, que atende milhares de famílias. Com FMP e outras entidades, lideramos a luta dos Mutirões, na cidade de SP. que permitiu construir mais de 5 mil moradias pelo sistema de Mutirão, com a participação decisiva das mulheres, um marco na luta da moradia. Luta e movimentos por saúde, hospital, UBS, escolas, creches, asfaltos, praças, etc.

Muita luta, participação e conquistas.

BM: De operária química a vereadora da Capital, também destacada dirigente da Federação das Mulheres. Como foi essa trajetória da sua vida de compromisso com a gente paulistana?

Lídia: Nasci em Piquete e, já em São Paulo, tenho forte atuação na região de Pirituba/Perus/Jaraguá, onde moro até hoje. Onde nasceram meus filhos Pedro Ivo e Júlia.

Em 1988, em função desse trabalho, fui indicada para candidata a vereadora. Depois de uma campanha vigorosa, fui eleita por 3 mandatos consecutivos. Mandatos de muito trabalho, luta e participação popular e muitas realizações. Os mandatos permitiram mais lutas, conquistas e realizações, sempre com o imprescindível apoio e participação partidária, das entidades, como FMP, Sindicatos, CNAB, Umes e Fepam e dezenas de Associações de Moradores e de Mulheres.

Participei do MR8, MDB/PMDB, PPL-Partido Pátria Livre em unificação ao grande e valoroso PCdoB, de tantas lutas em defesa do Brasil.



Sempre na luta pelo desenvolvimento do nosso país, da soberania, da indústria, contra a especulação financeira, dos direitos, da igualdade, pelo crescimento do nosso maravilhosos país e do nosso povo guerreiro, inspirada nos grandes líderes brasileiros, Tiradentes, “Mil  vidas eu tivesse, mil vidas eu daria pela libertação da minha Pátria”; Getúlio Vargas e tantos líderes e heróis, e nos líderes que se dedicaram ao estudo e à luta pelo socialismo cientifico como o único futuro para a Humanidade: Marx, Lenin e outros grandes nomes, apoiada por grandes lideranças.

BM: Todos conhecem o atendimento prioritário às gestantes, idosos, deficientes e pessoas com criança de colo, e muitas famílias construíram seu lar a partir dos mutirões femininos. Como foram essas vitórias, pioneiras em São Paulo, que contaram com a sua liderança?

Lídia: Em São Paulo, nossa cidade maravilhosa, do trabalho, da transformação, da união de povos, das oportunidades, infelizmente sofre o povo pela ação da especulação imobiliária, da falta de planejamento e consequentes graves problemas  urbanos, como transporte precário, trânsito, enchentes, segurança, falta de equipamentos públicos, etc.

Sofremos nós e o Brasil muito, em conta, principalmente,  pelo rentismo que consome os recursos da nação, públicos e privados, através de juros extorsivos.

Privatizações de serviços públicos essenciais, como a energia, hoje ENEL privatizada, que à qualquer chuva, a cidade sofre com apagões. O serviços de saneamento básico, essencial, atendida pela Sabesp, hoje ameaçada de privatização, que pode levar a serviços precários e mais caros.

Hoje, quando se discute a necessidade imperiosa do Brasil voltar a se desenvolver e a importância da reindustrialização, é São Paulo que reúne as melhores condições para isso. São Paulo é a locomotiva do Brasil e éfundamental retomar o seu papel na indústria de ponta. É a cidade que conta com uma rede de educação, inclusive profissionalizante, que pode permitir a formação adequada para trabalhar a indústria. Criação de polos tecnológicos. Desenvolver São Paulo e contribuir com a retomada do desenvolvimento do Brasil.

BM: São Paulo é a maior cidade do hemisfério sul, o que podemos dela esperar no futuro?

Lídia: Vamos conseguir unir as forças da inteligência, do trabalho, do povo e da sociedade e construir saídas e soluções para São Paulo continuar sendo a cidade da esperança, da união, das mudanças e melhores oportunidades, da vanguarda de políticas públicas na saúde, na educação, cultura, da defesa da Vida Melhor. 

Casa, comida, saúde, educação, trabalho: uma vida melhor e mais feliz. Tudo isto podemos conquistar, lutando com firmeza e os pés no chão. Mãos à obra!!!!

Viva São Paulo! Viva o Brasil!!!

Vereadora em São Paulo por doze anos, Lídia é operária química, bancária e funcionária pública, além de dirigente da Confederação das Mulheres do Brasil e do PCdoB. Na foto, condecorada pela Alesp com a Medalha Theodosina Ribeiro.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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