
Da coluna de Silvio Almeida, na página especial do centenário de Paulo Freire, Confederação Nacional dos Profissionais de Educação
Nascia em 19 de setembro de 1921 o autor de um dos cem livros mais lidos do planeta, a Pedagogia do Oprimido (1970).
Nestes obscuros tempos em que um presidente da República tem dificuldade de escrever uma carta de próprio punho e complementa o insaber do Ministro que reclama das crianças na sala de aula – diz que professor demais também atrapalha -, é prudente manter viva a chama da transmissão do conhecimento aos mais novos.
Educação é a transformação do mundo
É comum na história do Brasil que tudo que coloque em questão o pacto antipovo que ressalta o país seja tratado como ameaça; que tudo que se atreva a estimular a formação de uma consciência nacional-popular e crítica seja repelido.
Nos últimos anos, a obra de Paulo Freire —um dos maiores pensadores da educação de todos os tempos, reconhecido nacional e internacionalmente— tem sido apontada por grupos reacionários como sendo o principal motivo da decadência da educação no Brasil.
Não é a desigualdade social, o baixo salário de professores, a falta de estrutura das escolas e nem a ausência de um projeto nacional o problema da educação. O problema, na misteriosa cabeça dessas pessoas, é Paulo Freire, que seria quase que um “educador do fim do mundo”.
Talvez, neste ponto —e só neste e pelos motivos errados— os detratores de Paulo Freire têm alguma razão, pois sua lição mais poderosa é: podemos pôr fim a um mundo que já não nos serve e podemos projetar outro completamente novo, em que caibamos todos nós.
Freire não enxergava a educação como um ato de “transferir” conhecimento, depositar saberes no aluno como se este fosse uma caixa ou um cofre. Este tipo de educação alienante —que não à toa denominava de “bancária” – concorre para que a exploração e a opressão sejam tomados à consideração dos dados considerados “naturais” e não como internacionais históricas.
A educação para Freire é um processo de transformação que vai além do indivíduo. Na linha mesma traçada por Jean-Paul Sartre, Freire entendia o indivíduo sempre em situação, ou seja, sempre envolto pela facticidade e pela presença de outros estrangeiros. Dessa forma, a educação, ao moldar a subjetividade, inevitavelmente interfere nos sentidos que o indivíduo atribui ao mundo em que está lançado e na relação com outros indivíduos.
Com efeito, a educação para Paulo Freire não é apenas a mudança de consciência, mas a transformação do mundo, sem o que o indivíduo não se transforma. Entre mundo e ser humano há uma inextrincável relação dialética que, se puder ser desfeita, ou ser humano deixaria de ser humano e o mundo perderia o sentido.

Em outras palavras: para Paulo Freire o ser humano é ser humano “no mundo” e o mundo só existe porque o ser humano nele habita. (+254 palavras, FNTE)
Também a CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil resgata a extensa obra de Freire, inclusive com três vídeos sobre a vida do educador. Também o Observatório da Democracia trata do legado do patrono da educação brasileira.