
José Aron Sendacz, julho e agosto de 1954
Não apenas na redação do jornal, na Sociedade de Cultura ou na Editora é que eu procurei resposta a várias questões. Tendo uma caderneta repleta de endereços, para entregar lembranças, pude tomar contato com pessoas do povo, com as quais conversei na intimidade.
Constatei com alegria que não há mais aquela ânsia para deixar o país. Os judeus se firmaram, organizaram suas vidas, trabalham em fábricas, em minas de carvão, nos mais altos postos governamentais e também nos trabalhos mais humildes, que não exigem qualificação. Ao redor de Walbrzich pode-se encontrar camponeses e cooperativistas rurais judeus. Encontrei em Wroclaw uma cooperativa de sapateiros, com o nome de Mosze Olgin, onde 90% dos membros são judeus. Nos clubes judaicos, todos instalados em grandes salões fornecidos pelas prefeituras, encontra-se sempre muita gente. Pode-se ler jornais, revistas, livros, pode-se jogar xadrez ou simplesmente conversar. As pessoas também vêm aos clubes para tomar um chá ou jantar.
O movimento dos clubes começa cedo. Como na maioria das fábricas o trabalho termina às 3 ou 4 da tarde, já às 4:30 pode-se encontrar pessoas nos clubes. Todas as realizações – conferências, aulas, ensaios, reuniões – começam às 5 horas.

O horário para o início dos espetáculos teatrais é às 19 horas e então a vida sócio-cultural bem como o lazer é encerrado às 10:30 ou 11 horas da noite.

Todos os clubes judaicos, escolas, teatros e outras instituições são filiadas à Sociedade Sócio Cultural, que tem sua sede central em Varsóvia, instalada num prédio de quatro andares, sob a presidência do talentoso e inteligente crítico literário – Dawid Sfard.
A sociedade possui 11 mil associados e tem departamentos em 24 cidades. Além disso são organizados clubes, círculos de leitura, núcleos culturais, nas menores cidades e aldeias onde se encontram alguns judeus. A sociedade Sócio-Cultural envia a esses clubes, oradores, escritores, instrutores, artistas etc.
Além do Grande Teatro Estatal Judeu sob a direção de Ida Kaminska, há espalhados pelo país, vários grupos de atividade artística. Para dirigir as duas dezenas de coros, a sociedade mantém um curso de regentes.

O Coro Judaico de Stetin, ganhou o 1º Prêmio no festival nacional, em que participaram corais judaicos e poloneses. Mais de uma dezena de escolas, cuja didática é dada em iídiche, estão atuando hoje na Polônia, sendo que algumas são de 11 graus.
Além disso, nas escolas polonesas é ensinada a língua iídiche quando nas mesmas há pelo menos 10 crianças que queiram aprender. A Editora do Livro Judaico publicou no ano passado 34 livros. Cada livro com edições de mais de 5 000 exemplares.
Escritores e jornalistas judeus, atores e regentes judeus, professores e cientistas judeus podem viver de estudo e trabalham sem preocupações financeiras. Há sinagogas e “casa de reza”, orfanatos e casas de idosos, pulsa uma vida judaica ativa na Polônia.
O chefe da redação do Folks Sztyme, Hersz Smoliar, me conta, que a cada dia a vida cultural judaica se fortalece na Polônia. Mesmo nas menores cidades exigem-se oradores, artistas, pedem espetáculos teatrais que devem ser realizados.
– “Isso somente é possível – se vangloria nosso querido amigo Buzgan – em nossas condições, onde não há preocupação de custos”.
E o Teatro Estatal Judaico deve montar espetáculos em cidadezinhas onde há apenas alguns poucos judeus.
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