
José Aron Sendacz, julho e agosto de 1954
Domingo pela manhã cheguei a Wroclaw e fui recebido por amigos na estação ferroviária.
Minha primeira visita foi ao regisseur Rotbaum, que não esperava ver-me naturalmente e que ficou agradavelmente surpreendido. Ele me recebeu com alegria e durante várias horas, falou-me sobre seu trabalho. J. Rotbaum é o atual diretor do Teatro Estatal Polonês em Wroclaw.
Por suas encenações talentosas, ele já recebeu dois prêmios estatais, um pela montagem da peça “O homem com o fuzil” e o outro pela peça “A corrida para Fragalaá”. Tendo à sua disposição as maiores facilidades, porque o Estado paga todas as despesas, ele pode dar asas à sua fantasia artística. Não é à toa que todos os seus espetáculos são tão ricos em cenários, trajes, música, interpretação e colorido.

– “Após anos de peregrinação e procura – diz Rotbaum – tenho finalmente a oportunidade de fazer teatro como ele deve ser feito.”
J. Rotbaum está super feliz com suas realizações. Nunca ele foi tão criativo, nunca ele pôde expandir tanto seu talento, nunca sua fantasia se espraiou como agora. E os espectadores, a crítica, o mundo artístico da Polônia reconhecem seus feitos. Não é à toa, que no ano passado, ele foi designado chefe de uma delegação de diretores poloneses, numa visita à URSS.
Por mais ou menos uma hora, folheei seus álbuns. Vimos as fotos e ele se alegrava com seus feitos.
De lá, fomos visitar a cidade. Visitamos uma série de monumentos, o estádio de esportes, a galeria, que comporta 30 000 pessoas. Essa galeria foi mandada construir por Hitler para lá proferir seus discursos, agora ela é usada pelo povo para realização de vários espetáculos, competições esportivas, comemorações de feriados nacionais ou trabalhistas etc.
Vimos as casas, o cemitério, as ruínas, o cemitério dos soldados soviéticos tombados na tomada da cidade, a exposição etc.
À noite visitamos os artistas Chevel Buzgan e Rywka Sziler. Eles se alegraram por poder receber lembranças do Brasil, dos amigos brasileiros. Eles também nos contaram sobre sua atuação atual.
Chever Buzgan e Rywka Sziler trabalham no Teatro Estatal Judaico. Esse teatro montou ultimamente peças extraordinárias.
Além das peças do repertório clássico do Teatro Idish, foram apresentadas ultimamente as seguintes peças: – “A grande provação” de M. Robles; “Os três amigos”; “30 moedas de prata” de Howard Fast; “Amor recíproco”; “Era uma vez”; “Julius e Ethel”; “Maier Yussefowicz” da escritora polonesa Eliza Ziszkowa e assim por diante.
O fato de a peça “O sonho de Goldfaden” ter sido apresentada mais de 150 vezes na Polônia, nos demonstra quão grande é a sede por teatro da comunidade judaica nesse país.
Chevel Buzgan e Rywka Sziler falam sobre seu trabalho com muita satisfação. O teatro Judaico está em atividade durante o ano todo, com um pequeno intervalo de apenas um mês.
Chevel Buzgan me diz: – “que nunca os atores judeus tiveram uma vida tão tranquila, sem preocupação como agora na Polônia. A única preocupação é representar cada vez melhor, com mais arte e procurar dar de si o melhor possível.”
Buzgan, ele também, recebeu um prêmio por seu trabalho: a medalha “Polônia Restituta”, que é uma alta condecoração governamental.
À noite fui ao Teatro Polonês assistir ao espetáculo “Brevemente Florirão as Castanheiras”. Uma peça sobre a morte do jornalista e lutador pela liberdade, o checo Julius Putchik.

Na manhã seguinte visitei o Clube Sócio Cultural de Wroclaw. Esse clube está localizado num edifício cedido para atividades sócio-culturais judaicas.
O presidente, o companheiro Wolfowicz, apresentou-me os diversos aspectos do trabalho cultural realizado, levou-me a conhecer todos os recantos do Instituto e depois levou-me à Escola Judaica de 11 séries, que se acha instalada num prédio de 3 andares. A escola estava em época de férias.
Visitamos também o Teatro Idish, encontramos e conversamos com o querido ator e ativista social Itzik Grudberg Turkow. Fomos visitar a pré-escola que leva o nome da Cooperativa de Couro Mosze Olgin. A diretora, companheira Szipalter – mostrou-me a pré-escola e seus grandes salões de recreação e de refeições pertencentes à Instituição.
Os trabalhadores da cooperativa, levam para lá seus filhos pequenos. As crianças estão sob a supervisão de educadores competentes. Foi um grande prazer ver como as crianças brincavam, cantavam e dançavam.
Depois, no carro do Instituto, fomos até Szewdnic, uma cidadezinha a 60 km de Wroclaw. De lá fomos para Dzerdzanow. Lá fomos acompanhados pelo camarada Blutjkowski, maestro dos coros das duas cidadezinhas. Em ambas cidades, visitamos os clubes locais. Fomos muito bem recebidos pelos companheiros de lá, que se vangloriaram com suas instituições, com seus clubes, suas bibliotecas, salões de leitura, quadra de esportes; nos informaram sobre os programas, conferências, espetáculos artísticos, com a atividade de seus coros, grupos dramáticos, grupos de dança, grupos juvenis e assim por diante.
Às 5 da tarde voltamos para Wroclaw, onde eu estava convidado a visitar a casa do casal de artistas Buzgan e Sziler. Com vinho e petiscos preparados para me receber, ficamos ao redor da mesa papeando até às 8 horas.Buzgan contou episódios do teatro, Kluchkowski cantou canções sentimentais judaicas e conversamos sobre a vida cultural judaica, sobre a atividade cultural em geral na nova Polônia.
Às 8:30, Klutchkowski e eu, fomos ao Teatro Idish, onde Rotbaum apresentou uma pré estreia somente para a crítica especializada da peça sobre o levante de Koszcziuszko – “A chave para o Arsenal”. À meia-noite embarquei novamente para Varsóvia.

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