
José Aron Sendacz, julho e agosto de 1954
Quando numa 5ª feira, no Aeroporto de Orly – Paris – embarquei num avião polonês com o objetivo de romper a assim chamada “cortina de ferro”, compenetrei-me profundamente sobre minha tarefa.
Após 24 anos é a primeira vez que eu faço uma viagem dessas. No ano de 1930 eu, quase uma criança, deixei a Polônia juntamente com meus pais, e na verdade, apesar do anti-semitismo sempre sentia uma nostalgia por aquele país. O país, em que não apenas meu tataravô nasceu, mas também o país que foi durante 1000 anos um centro de judeus e judaísmo, onde durante centenas de anos foram escritos os maiores e mais importantes obras culturais judaicas, que influenciaram dezenas de gerações dentro e além das fronteiras da Polônia.
Então, não é de se estranhar, que voltando agora a esse país mesmo por algumas poucas semanas, eu senti um calafrio. Um calafrio de satisfação por poder rever o país, e ao mesmo tempo um calafrio de luto, lembrando-me da destruição deixada pelos 6 anos de ocupação nazista. E eu tive a impressão que assim devem ter se sentido os judeus religiosos, quando viajavam para orar no Muro das Lamentações, no qual eles viam a grandeza e a destruição da judeidade. Mas senti mais, um calafrio de inquietação!
Minha atual viagem à Polônia não tinha como objetivo mitigar minha nostalgia, minhas saudades por aquele país, e, também não era apenas uma viagem ao “Keiver Oves” (visitação aos túmulos). Eu fui para ver um país, que após uma horripilante opressão, após duas décadas de terror fascista interno e após 6 anos de guerra, se livrou não apenas do jugo dos ocupantes nazistas, mas também dos cruéis governantes que durante séculos oprimiram as massas populares, sugando suas últimas gotas de energia, e também a paciência desse povo, causando fome, grosseria, impelindo para o alcoolismo e devassidão, cultivando o ódio e incitando assassinos, transformando a grande terra polonesa num mar de sofrimento e pavor.
Esse país é que eu vim ver. Um país onde o povo rompeu os grilhões da escravidão e se livrou do antigo sistema de exploração do homem pelo homem, onde aniquilou os fundamentos do ódio e lutas fratricidas e começou uma nova vida baseada em novas verdades.
Fui ver um país, que após anos de destruição começou uma vida baseada no socialismo.
Em minha mente comecei a imaginar quadros de como vou encontrar este país, mas não me deixaram pensar por muito tempo. Meu vizinho, um francês que viajava em missão comercial, pediu minha ajuda para se comunicar com a simpática e loira aeromoça, que nos servia no avião. Sendo eu o único entre os passageiros que falava polonês, minha tarefa não foi fácil. Minhas poucas palavras em francês, que eu havia aprendido na viagem, e o pouco de alemão idishado, por pouco não me transformaram no tradutor oficial entre a tripulação e os passage/iros.
Avistei pela pequena janela do avião, uma alta torre, cuja cúpula dourada, brilhando ao sol se assemelhava a uma tocha ardente. Chamei a aeromoça e brincando perguntei-lhe: – “O que é isso? Não é por acaso a porta para a cortina de ferro?” – “Não, a cortina de ferro já foi ultrapassada há tempo. Essa torre é do esplendoroso palácio da educação e da cultura, que nos foi presenteado por nossa grande vizinha, a União Soviética”.


Mais tarde, em Varsóvia, pude conhecer melhor esse Palácio. Está localizado no centro da cidade, numa praça de 700 metros de largura. Tem 240 metros de altura e nele vão se concentrar os principais centros de cultura e educação. Será concluído no próximo ano. Este edifício, que é presente da URSS, está sendo construído por 5000 trabalhadores soviéticos, técnicos e engenheiros, que vieram à Polônia especialmente com esta finalidade. Todas as máquinas de construção foram trazidas da URSS.
Às 16 horas, nosso avião aterrizou no Aeroporto “Agentele”, na periferia de Varsóvia. Aguardando na pequena sala de espera do Aeroporto, ouvi chamar meu nome. Uma jovem mulher de óculos e loiras tranças ao redor da cabeça, de pequena estatura e um sorriso muito amável, me entrega um ramo de flores e me saúda em nome do KUKZ (comitê para colaboração cultural com países estrangeiros), e me deseja que eu me sinta bem na terra polonesa.
A bagagem é descida do avião e um motorista me pergunta quais são minhas malas; eu lhe mostro. Sem esperar pelo controle alfandegário, ele as coloca no carro que está a minha espera lá fora. Quando comento a respeito disso com minha acompanhante, ela sorri e diz: -”Penso que o senhor não terá trazido bombas em sua bagagem…”
Durante o trajeto, ela me chama a atenção para as ruínas e também para o que já está sendo reconstruído em Varsóvia. Mostra o cemitério de soldados soviéticos tombados na luta por Varsóvia.

(foto original colorida)
Chegamos ao Hotel Bristol, na praça Periferia de Cracóvia, onde ficarei alojado. Às 19 horas, minha guia Barbara Narewska, ou como a partir de então a chamamos, “a pequena Basha, ou camarada Basha”, me procura. Ela me traz cigarros poloneses e me convida para descer ao salão, onde ela quer me apresentar aos outros membros de seu grupo.
A delegação da qual farei parte, é composta de 23 pessoas, sete mulheres e 16 homens. Além dos membros do grupo há também 4 acompanhantes designados pela KUKZ; a já mencionada Barbara Narewska, o chefe da delegação Tulawieski, Tomachyk e Kowalczik.
Às 20 horas jantamos e em seguida saímos a caminhar pela cidade.
Na manhã seguinte, logo após o café da manhã, tivemos uma pequena reunião com nossos guias para elaborar em conjunto, um programa dos lugares que gostaríamos de visitar. Esse programa foi realizado por completo.
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