Por que lutamos?

A cognição humana serve, ou deveria servir, para da História tirar lições engrandecedoras do saber coletivo da espécie. Não é o que parece acontecer no Brasil de hoje, onde um cidadão se sente à vontade para ostentar o ódio nazista no braço em local público e a polícia, acionada pelos frequentadores do bem, entendeu que o crime em curso não precisava ser contido.

A recente marcha do fascismo levou-me a completar a assistência à série documental estadunidense “Por que lutamos?“, na qual o diretor Frank Capra expunha aos combatentes a motivação oficial do país para atravessar o oceano e enfrentar os planos escravagistas da Alemanha e do Japão, em nome da vida, da liberdade e do direito de ser feliz de toda a gente.

No primeiro dos sete capítulos da série, de aproximadamente uma hora cada, o Departamento de Estado expõe o que é o fascismo e como ascendeu ao poder em três países, bem como revela seus planos de redesenhar o mundo. Nos dois seguintes mostra o início da escalada escravagista, tanto na Europa como no oriente. Antes de culminar nos efeitos do conflito sobre os interesses americanos, trazem imagens epopeicas das batalhas da Grã-Bretanha, Rússia e China.

Combata o fascismo onde quer que ele apareça

A posição dos EUA quando do inicio dos ataques – Manchúria, Etiópia e a região dos Sudetos – era de neutralidade, sem fornecimento de suprimentos de guerra a qualquer das partes, posição que contava com razoável apoio popular. A dissimulação própria dos fascistas conseguiu, por um bom par de anos, fazer os governos estrangeiros acreditarem nos tratados de não-agressão, ou mesmo na simples palavra de Hitler e seus asseclas, do desinteresse alemão em ocupar um país vizinho.

A invasão da Polônia em setembro de 1939, sem qualquer anúncio pelo tratante alemão (sim, em 1935 os governos fizeram seu pacto de não agressão), deu início à globalidade dos conflitos, com a Inglaterra (proprietária de outro papel assinado) e a França declarando guerra ao nazismo. O fato foi suficiente para os americanos romperem com a neutralidade, mas não ainda para entrarem na briga, o que aconteceu somente após a agressão japonesa ao território dos EUA, durante uma conversação diplomática.

Importante frisar a relevância da atuação do embaixador Joseph Davies, que representou os EUA na União Soviética entre 1936 e 1938, dedicando os anos seguintes a percorrer o país explicando qual era o lado certo a se aliar. Sua história pode ser conferida em Missão a Moscou*.

Quanto de vidas, de liberdade e do direito de ser feliz poderia ter sido poupado à destruição nazifascista se a consciência tivesse chegado mais cedo aos que pensaram ser o fascismo uma realidade distante?

O comandante das forças aliadas G. Marshall declarou que a “vitória da democracia só pode ser completa com a destruição absoluta da máquina de guerra da Alemanha e do Japão”.

Por um período bastante extenso assim parecia que havia sido. Mas as milícias no poder nos fazem pensar que a vitória aliada não tenha sido definitiva. Afinal, como se vê no premiado russo Tigre Branco*, de 2012, “ele [o fascismo] está bem atrás de você”.

Será?

*Missão a Moscou já foi exibido na TV Cultura e o livro pode ser adquirido em sebo eletrônica, Tigre Branco é produção da Mosfilm e distribuído no Brasil pelo CPC-Umes.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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