Caso Mengele: a vida e a morte (secretas) de um nazista no Brasil

Por André Cintra, no Vermelho

A pequisa de Betina Anton chega dia 11 à Livraria da Travessa, Shopping Villa Lobos, em São Paulo,

Até hoje, há quem acredite que Mengele não morreu. Em 1985, quando seu corpo foi exumado, ainda não havia testes de DNA para reconhecimento cadavérico. Mas todos os exames aplicados à época confirmaram sua real identidade. Somente em 1992, com a colaboração do filho de Mengele, foi feita a comparação genética por DNA na Inglaterra. Sim, a ossada era, definitivamente, do oficial nazista.

Além de oficial da SS (Schutzstaffel, a força paramilitar do Partido Nazista), Mengele era médico com experiência em pesquisas genéticas. Suas credenciais, aliadas à fidelidade a Adolf Hitler, alçaram-no a um posto estratégico em Auschwitz durante a 2ª Guerra Mundial. Sua função: triar os prisioneiros judeus que chegavam ao campo de concentração no sul da Polônia. Era ele que decidia quem deveria morrer nas câmaras de gás e quem seria cobaia em experimentos com humanos – daí seu cognome de “anjo da morte”. Ao menos 400 mil judeus pereceram sob suas ordens.

A exemplo de centenas de outros nazistas, Mengele fugiu para a América do Sul após o fim da 2ª Guerra, com a ajuda da Igreja Católica, que criou rotas de fuga conhecidas como “caminhos dos ratos”. Ele permaneceu por dez anos na Argentina, onde o presidente Juan Domingo Perón criara a “rede Odessa”, facilitando a entrada de milhares de alemães, sendo ao menos 300 criminosos de guerra (conforme o Centro Simon Wiesenthal).

Avisado de que “caçadores de nazistas” haviam descoberto seu paradeiro, Mengele se deslocou para o Paraguai e, pouco tempo depois, chegou ao Brasil. O ano era 1961. Baviera Tropical se dedica a investigar o que aconteceu desde então na vida do nazista, que fixou residência em municípios paulistas.

Mengele foi bem recebido em todas as cidades por onde passou – Nova Europa, Serra Negra, Eldorado Paulista, Caieiras, Diadema e Embu, além da própria capital, São Paulo. Evitava expor sua identidade – até que sentisse confiança da família que o acolhia. Quase sempre às voltas com europeus expatriados, viveu praticamente sem risco, longe dos holofotes.

Conforme a pesquisa de Betina Anton, nos 30 anos de seu autoexílio na América do Sul, houve apenas duas ocasiões em que serviços de espionagem estiveram realmente próximos de Mengele – uma na Argentina, outra no Brasil. Embora se tratasse do criminoso de guerra mais procurado no mundo, jamais foi encontrado em vida.

Em 7 de fevereiro de 1979, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) na Praia da Enseada, em Bertioga, levando-o a morrer afogado. Foi enterrado igualmente às escondidas no Cemitério de Nossa Senhora do Rosário, em Embu, com o nome falso de Wolfgang Gerhard, inspirado num amigo nazista que o ajudou a entrar no Brasil. Para uma vida secreta, uma morte igual. (+

Afora o Brasil, Baviera Tropical já tem lançamento previsto em sete países – Estados Unidos, Finlândia, Holanda, Hungria, Polônia, Portugal e Sérvia. A história de Josef Mengele não interessa apenas ao leitor brasileiro, alemão ou judeu. É mais uma peça do quebra-cabeça do nazismo e de outros fenômenos que tanto impactaram o século 20. (+1037 palavras, Vermelho)

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo e da Engenharia pela Democracia, conselheiro da Casa do Povo, Sinal, CNTU e Aguaviva, membro do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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