
O diretor da Hora do Povo, Carlos Lopes, já havia resenhado a obra de Jabbour e Gabriele e comentado sobre o socialismo do século 21 na China. Em aula magna o psiquiatra trouxe mais alguns elementos para a discussão.
De plano, lembrou que “socialismo com características chinesas” é, antes de tudo, socialismo. Se a Nação oriental é una, não significa que naquela formação social não possam conviver mais de um sistema de relações de produção social.
Diferentemente da URSS, que contava, a partir de certo ponto da história, com relações comerciais exteriores focadas nos países socialistas – a Comecon -, a China opera no mercado global, hegemonicamente capitalista. Há outras distinções entre a situação das duas economias, como o fato de a segunda guerra mundial ter exigido preparação e enfrentamento dos soviéticos, drenando bastante energia da economia nacional.
Os chineses depararam-se com uma questão importante ao desenvolvimento de suas forças produtivas, necessárias para a modificação das relações de produção. Como usar os mecanismos do capitalismo para aproximar a transição ao socialismo?
No início do processo revolucionário, os chineses não recorreram à expropriação, mas à compra das empresas que tinham, em média, dez empregados por unidade. E passaram, gradativamente, a implantar indústrias paralelas àquelas providas desde o exterior. Com recursos próprios e controle do Estado.
O setor socialista chinês avança lastreado, como se vê na obra de Jabbour, pela propriedade social da terra; empresas rurais; grandes conglomerados estatais; setor financeiro igualmente estatal, assim como o comércio exterior; o projetamento econômico ligado a uma comissão de supervisão e administração dos ativos do Estado; e, evidentemente, a direção do Partido Comunista sobre a coisa toda.
Não é dada, segundo Lopes, a vitória do socialismo sobre as formações mercantis que ainda operam na China. Mas o desempenho observado do setor socialista da economia chinesa dá certo favoritismo a ele.
Na URSS, se antes da guerra a prioridade dada pelo Estado era para a indústria pesada e o planejamento econômico constituía-se o instrumento principal de gestão, sob a nova direção pós-Stálin a lei do valor passou a crescentemente imperar sobre o plano estatal, resultando em um travamento da economia.
A China, a seu turno, procurou deixar o valor como acessório no desenvolvimento, centralizou o planejamento e controle da maior parte da produção e trilhou o caminho da busca pela independência produtiva e tecnológica do país.
Ao contrário da NEP russa, concluiu Lopes, ao reformas de 78 significaram um passo à frente, ampliando a subordinação do setor capitalista ao socialista na China.
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