
Os muitos comentários sobre estes dias que não se viam desde o século passado nos exigem algumas reflexões. Já há quem proponha para 15 de Março próximo o epípeto de Dia do Otário, mas nos parece desmesurada a proposta legislativa. No entanto, antes de o Presidente convocar o povo às ruas para defender o seu governo, precisará explicar o que está fazendo, como perguntou uma marcha carnavalesca deste ano.
De um lado, repete-se à exaustão que Bolsonaro e o governo são “maravilhosos”, é o STF e o Congresso que atrapalham, logo aqueles parlamentares que acabaram de aprovar seus vetos ao orçamento impositivo e, em um plano mais amplo, reformou a previdência e prioriza uma pauta destruidora do Estado nacional.
O que atacam estrategistas e sua malta de repetidores, nem todos humanos, é a divisão de Poder no país, os fundamentos constitucionais do Brasil. Quando o próprio Presidente da República declara que o deputado-“príncipe” “é melhor que esse Mourão aí” dá uma mostra de quão restrito ele quer o comando dos mais de 210 milhões de brasileiros, mais de 8 milhões de quilômetros quadrados de território e mais de sete trilhões de reais produzidos por ano.
Não, não é pela milícia em geral. A impressão que passa é que apenas uma família deve comandar os negócios no Brasil, com concessões aqui e ali. Tudo garantido por uma força armada que nem um pouco legal pode ser.
A insuspeita Senadora Katia Abreu comentou sobre a possibilidade de os empresários que se reuniram na Fiesp (quase nenhum industrial, por sinal) contratarem Jair Messias para chefiar seus negócios. Até administradores amadores sabem que quem pode mais, pode menos. Um diretor pode assumir uma gerência ou seção de sua responsabilidade. Se nenhum deles achar que o presidente pode assumir uma empresa relativamente pequena, o que dizer de sua capacidade para presidir um país do tamanho do Brasil?
Alguns parágrafos acima dissemos “por um lado”. Logo, cabe comentar propaganda do outro lado. Lê-se nas redes sociais que a hecatombe econômica da Bolsa de Valores não poderia ser creditada ao PT, era problema exclusivo da gestão ultraliberal que levou o Chile a colocar seguidamente milhões nas ruas em busca de um novo modelo econômico que desenvolva a país e devolva a dignidade aos cidadãos chilenos.
Concordando com as críticas ao liberalismo, que governa o Brasil há gerações de presidentes, cada qual com seu verniz vocabular, há que se notar que parte da eleição de Bolsonaro deveu-se à insistência do Partido dos Trabalhadores em apresentar como candidato seu inelegível presidente de honra, então detido pela Lava-jato. A atitude partidária mais ou menos trocou a eleição de quatro governadores e uma bancada de deputados e senadores pelo comando do país sob os auspícios de Bolsonaro e sua trupe.
Ensina a física que os opostos se atraem. Tanto a Lula interessa mais Bolsonaro no governo como a este ter o ex-presidente como “oposição”. Um se alimenta da rejeição do outro por motivos que parecem bem íntimos, ao mesmo tempo que são muito distantes dos interesses nacionais.