
A edição nº 172 da revista Princípios, da Fundação Maurício Grabois, aprofunda o debate sobre a economia do projetamento, iniciado na edição anterior. O fenômeno chinês e, de forma mais ampla, a alternativa socialista na atualidade tem agora um conjunto de artigos teóricos e conceituais, que trazem reflexões sobre o significado da nova economia do projetamento para os desafios da transição ao socialismo nesta primeira quadra do século XXI.
Partindo do editorial, aqui estão algumas das sinopses do dossiê:
Uma nova formação socioeconômica?
Este artigo busca fornecer uma estrutura filosófica mais abrangente para o modelo de “nova economia do projetamento” na China. Desenvolvida por uma equipe de pesquisa composta de economistas políticos e cientistas so- ciais, a “nova economia do projetamento” oferece uma estrutura teórica ino- vadora para interpretar a realidade da China. No entanto, é necessária uma análise filosófica mais extensa do que está em jogo. Nesse sentido, o presente artigo é subdividido em duas seções principais. A primeira fornece uma crítica geral acerca da mudança do antigo projetamento — como inicialmente proposto pelo economista brasileiro Ignácio Rangel —, bem como os pontos-chave do “novo projetamento” da China. A segunda seção pretende conectar a proposta da equipe de pesquisa com a análise filosófica marxista chinesa, em termos do desenvolvimento da análise de contradições, da reconstrução da história econômica da China desde 1949 e da transformação dialética (Aufhebung) tanto do planejamento quanto do mercado na nova era. Destaca-se, por fim, que o próximo passo deve ser um maior envolvimento da equipe de pesquisa do cha- mado “projetamento” com acadêmicos e formuladores de políticas públicas chineses, pois isso levaria ao progresso mútuo por meio da complementarida- de e da diferença.
Estrutura e Superestrutura na Nova Economia do Projetamento
O presente trabalho analisa, pela perspectiva materialista, a Nova Economia do Projetamento. Esta apresenta-se como a atual etapa do socialismo chinês e tem como características principais a planificação econômica, a racionalização da produção e a diversidade teórica de seu arcabouço técnico-científico. Para analisá-la, foram mobilizadas as contribuições de célebres autores da teoria marxista acerca da superestrutura, de sua relação com a estrutura e de seu papel em um processo histórico revolucionário. A síntese dessas contribuições foi aplicada ao caso chinês, como foco no período posterior às reformas de Deng Xiaoping iniciadas em 1978, como forma de compreender as bases materiais que determinaram o desenvolvimento da Nova Economia do Projetamento e o papel histórico deste novo conceito.


Outos temas também estão presentes na edição corrente:
Um mundo policêntrico só será possível pela intervenção da “sexta grande potência”
A intervenção das forças populares — o que Marx chamou de “sexta grande potência”, em referência às cinco grandes potências europeias de seu tempo — continua sendo fundamental para a atual transição sistêmica. Este artigo busca esclarecer o caráter e a evolução da contradição entre o imperialismo e os trabalhadores do Terceiro Mundo. Baseando-se na noção de policentrismo de Samir Amin, argumenta-se que a transição atual, marcada pelo declí- nio prolongado do sistema capitalista, ainda pressupõe a “desconexão” da lei mundial do valor e a busca por caminhos de desenvolvimento soberano em bases populares. Tal transição só pode ser alcançada por meio da intervenção de trabalhadores e camponeses nas periferias do sistema. Elementos-chave da atual rivalidade sistêmica são discutidos para iluminar os desafios, com foco especial na expansão das reservas de mão de obra e no caráter das formações sociais periféricas hoje.
Transição demográfica e janela de oportunidade no Brasil
O objetivo deste trabalho é analisar a evolução da transição demográfica e ao mesmo tempo verificar a ocorrência da janela de oportunidade, de forma a contribuir para a formulação de políticas públicas, principalmente no que se refere a educação, saúde e previdência social. Os dados utilizados compreen- dem um período de 60 anos, entre 1960 e 2020. O método adotado para anali- sar a transição demográfica e identificar o bônus demográfico será o definido por Ralph Hakkert e José Eustáquio Diniz Alves. Os resultados mostram que o Brasil se encontra na terceira fase da transição demográfica, com a ocorrên- cia do bônus demográfico, ou seja, com a maior parte da população em idade ativa.

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