
Sentimos muito a perda precoce da tia Sonia, dupla tia prima da minha mãe Hugueta e cunhada do meu pai José Aron Sendacz.
O Memorial do Holocausto e Luiz Rampazzo, em seu livro Sobreviventes, contaram um pouco sobre a juventude dela, até chegar ao Brasil nos anos 1950.
Sonia Sendacz nasceu em Magdeburg, na Alemanha. Filha de Ruchla Korpel e Mortiz Sheradsky, poloneses da cidade de Lodz, que na década de 1920 imigraram para a Alemanha. Após o nascimento da filha, Moritz decidiu tentar a vida nos Estados Unidos – e nunca mais Ruchla e Sonia tiveram notícias dele.
Sonia tem recordações da Noite dos Cristais, em 9 de novembro de 1938 – e como a Alemanha foi se transformando, ao longo dos anos, em um ambiente completamente hostil para os judeus.
Certa vez, enquanto passeava com suas amigas, se deparou com ninguém mais que Adolf Hitler, que estava de visita em sua cidade. Ele pegou na mão da pequena Sonia, e comentou com seus acompanhantes – “Vejam essa linda alemãzinha, um exemplo perfeito de ariana!” Sonia, uma jovem judia, ficou aterrorizada.
Em agosto de 1939, Sonia conseguiu uma vaga em um dos trens que partiam para a Inglaterra, o Kindertransport. Ela foi na frente, e iria aguardar pela mãe. Mas poucos dias depois de sua partida, a Segunda Guerra Mundial começou e a Ruchla não conseguiu deixar a Alemanha.
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Durante algum tempo, elas mantiveram contato por correspondências. Mas meses depois Sonia não teve mais notícias da mãe.
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Órfã de pai e mãe, Sonia passou a trabalhar como ajudante para o casal de judeus que a recebeu.
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Fluente em alemão e inglês, teve a oportunidade de combater os algozes de sua mãe, seu então futuro cunhado Leib Sendacz e milhões de vítimas do nazi-fascismo, servindo com escuta na Royal Air Force britânica.
Adiante, escolheu o Brasil como destino, sendo recebida por seus tios Abrão e Pola Rajnstajn, vindo a desposar Isaac Sendacz e formar família e a Malharia Elegante, no Bom Retiro. Cidadã do mundo, já viúva teve matrimônio primeiro com um cidadão estadunidense e, depois, com outro israelense, este, Raffy Rosemberg, viúvo de sua prima Hagar.
Foi alguém que nunca deixou um aniversário meu em branco, mas sempre telefonando para minha mãe.
Fica o carinho da lembrança e o exemplo do bom combate pela vida, que procuramos honrar.